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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Fernando Siqueira Pinheiro, tatuador de palavras (Nilto Maciel)

(Fernando Siqueira Pinheiro)

No finalzinho de junho deste ano, recebi visita de Pedro Salgueiro e Fernando Siqueira Pinheiro. Encontraram-me a ler Astrid Cabral. Deixei-a sobre a mesa e me voltei para eles. Passamos a conversar sobre nós mesmos, livros e algumas banalidades. O segundo queria ganhar dois livros meus (disse o primeiro, sem cerimônia): os contos reunidos. Dei-lhos, além de cerveja e queijo. Satisfeito, ofereceu-me também dois volumes: O tatuador de palavras e Ao lado do morto, ambos dele. Aquele saiu vencedor do Prêmio Osmundo Pontes de Literatura 2005. Tem boa aparência, de capa a capa, que são de Geraldo Jesuíno, também autor do projeto gráfico. Ilustrações de Nearco Araújo. O outro, também de contos, crônicas e crontos (termo que usei – e outros o usaram, certamente – e agora usa Pedro Henrique Saraiva Leão), se coroou com o Prêmio Literatura Unifor, 2007. É também produto da arte gráfica de Jesuíno. Um recebeu a chancela das Edições Poetaria e Expressão Gráfica e Editora, 2006. Outro, das Edições UNIFOR, 2008. As duas, de Fortaleza, Ceará, Brasil.

Nas abas do tatuador, Pedro Henrique ressalta: “De seus vários textos, vividos, ouvidos ou, com criatividade (alguns longamente), cerebrados, sobressai, sem dúvida “Maria das Dores”, onde, com singular “pathos”, o autor “cronica” a repetida tragédia de todas as marias “doloris”, com seus plínios e seus marcos deixados nas carnes pelas navalhas da vida. Baudelariano até, pois “poeta mesmo na prosa”, Fernando Siqueira Pinheiro é lírico ao recordar “O Olhar Meigo e Duvidoso de Nicinha”, e ao contemplar “mulheres a cochilar, nos braços um menino, no bucho outro ou a intenção” (in “Coqueiro Alto”). Na apresentação, Dimas Macedo (um dos julgadores do concurso vencido por Fernando) faz breve análise: “Vê-se que são contos centrados, essencialmente, na problemática da solidão e do amor, no conflito das relações amorosas e no plano da alteridade que liga a imanência das coisas às aspirações e projetos de vida do sujeito, o que, de plano, projeta a maturidade humana do autor, sendo arrojada a sintaxe que Fernando Siqueira utiliza para minutar o seu universo linguístico”.

Para o leitor ter uma ideia (talvez não dê para ter uma ideia, mas apenas uma suspeita) da arte do medico contista, exponho o início do primeiro conto de O tatuador de palavras: “Antônio Candeeiro era um homem de passado escuro. Sabe-se lá por que, toda e qualquer tentativa de esclarecer sua história era por ele energicamente abortada.” Na última peça do volume, que dá título ao conjunto, colhi alguns frases e fiapos de frases: “A noite parecia leve. A conversa, larga. Ouvi-lo era extremamente agradável”; “É certo que o esnobismo do sucesso chega a ser irritante”.

As abas da segunda coleção são de Pedro Salgueiro. Escreveu isto: “Fernando cultua um estilo despojado de artificialismos linguísticos; sua palavra é limpa, corrreta e desliza como o vento praiano nas palhas de um coqueiro, mais precisamente como o Vento Aracati nas frestas da telha de um casarão antigo numa madrugada de lua.” No prefácio, intitulado “Os caminhos de uma escritura”, Carlos Augusto Viana faz observações mais fundas: “O ficcionista Fernando Siqueira Pinheiro, ao contrário de seus contemporâneos, prefere as narrativas longas às curtas; em vez da concisão, da frase judiciosa e incisiva, o que assoma é a digressão; apreende, muitas vezes, informações que habitam a periferia das personagens ou das situações. Cultiva, entanto, a frase curta, bem lapidada: o período, de quando em vez, mostra-se longo; mas tal não compromete o ritmo da narrativa, pois, nesse caso, as frases ainda são curtas. Sua linguagem é simples e somente por imposição de uma situação dramática rompe com a norma culta da língua. É, pois, um ficcionista de fôlego”.
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