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sábado, 6 de agosto de 2011

Geraldo Lima, catador de pedrinhas de brilhante (Nilto Maciel)




Tesselário (Editora Multifoco: Rio de Janeiro, 2011) é um livro pequeno, de cerca de 70 páginas. Contos curtinhos, a maioria de menos de uma página. E tem uma divisão muito interessante: duas partes ( a primeira, intitulada “Tesselas”, composta de 34 – XXXIV – peças, numeradas (algarismos romanos); a segunda, denominada “Breu”, com 33 microtextos, em letras brancas sobre fundo preto.)

José Ricardo Moreira, na primeira aba do volume, conta um pouco a história de Geraldo: “Quem conhece Geraldo Lima sabe bem de seu inflexível processo de polimento do texto, do esmero que beira a obsessão”. E informa o que o leitor verá: “Nas Tesselas, as narrativas concentram, tecnicamente falando, o que há de melhor na arte de contar em poucas linhas. Não é trivial dizer tudo no curto espaço de um parágrafo, meia página, raramente um pouco mais. Desafio maior ainda é encerrar em frase e meia”.

A arte de Geraldo Lima é feita de pedrinhas de brilhante, como as da cantiga infantil. Não de pedras toscas, enormes, montanhas, himalaias. O conto “Tesselário”, que é poema em prosa, ou parábola, nos fala de um ser, sem nome, o protagonista. É apenas “um” e não “um homem”. E nem é do narrador, é de um poeta (ou do poeta): “Um, nos conta o poeta, pôs-e a erigir uma casa” (…). E o que mais fazia ou fez o “um”? Fazia a casa para nela morar, se abrigar. A casa, “depois de pronta, lhe serviria de abrigo contra a família”. Ora, contra a família. Ao término da história, o narrador volta a falar da casa e das pedrinhas juntadas pelo sujeito: “Para que tudo aquilo? Para ladrilhar a rua só pro seu amor passar”.

Geraldo me mandou o livro em 16 de junho. Não li antes, por falta de tempo. Estamos em agosto. Meu amigo nasceu em Planaltina de Goiás, em 1959. Fui morar perto de lá, uns 20 anos depois. Não o conheci. De vez em quando, o leio, pois dele ganhei outros livros: os contos de Baque, o romance intitulado Um e a peça Trinta gatos e um cão envenenado. Para encerrar este breve comentário, transcrevo um dos menores e mais cortantes contos (“Oh, não!”) do livro: “Agora só estamos nós dois aqui, o homem disse com voz de lâmina cortante. A porta fechou-se com estrondo, e o tempo parou de pulsar.” O título diz tudo, ou quase tudo.

Deu-me vontade de ser escritor.

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