(Para aqueles que a conheceram – no fundo)
Já é tarde para consertar.
Não, não serei nostálgico.
Não falarei de quintais, de árvores.
Já é tarde para consertar – repito.
O modelo urbano foi esse: poeira, pó e ganância.
A cobiça dos teus alcaides, dos teus “construtores”, dos teus políticos, sempre foi mais forte.
Teus homens públicos não te mereceram.
É claro: nunca te amaram
E muitos resolveram silenciar: é um réquiem o que queria escrever.
Mas um réquiem deve ter nobreza trágica.
Minhas palavras não: são pálidas, conscientes de sua inutilidade.
O tempo já não cabe dentro de mim.
Uma ilha habita o meu coração, mas não existe mais.
Já é tarde para consertar – caio na redundância.
(Qualquer palavra será inútil.)
Um dia, talvez, ela seja lembrada.
Minha ilha é nevoeiro.
(Com suas gaivotas, com seus meninos, com seus trapiches, com suas casas, com seus terrenos, com os seus verdes, com os seus pássaros, com suas praias – sem turistas deslumbrados.)
E nos teus morros, a gente poderia subir a qualquer hora do dia.
E morro (morremos): de doenças crônicas, de omissão, de complacência com a corrupção, de vaidades vãs.
Quem se lembrará dessa gente tão pequena que se apossou de ti, ilha natal?
É como se visse uma iluminada fogueira num junho qualquer – que nunca se apaga.
(Missa do Galo, tainha frita, o orvalho daquela manhã, e aquela praia chamada Lagoinha – no extremo Norte de ti –, ainda silenciosa e sem abutres.)
Ela, a Ilha (perpétua, imanente) continuará: para sempre:
Em um ser que ainda está sendo gestado – contemplando um álbum de fotografias num domingo à tarde.
Pai: Dissipa essa cerração!
Eu sei: “Todo ser humano tem dentro de si um vazio do tamanho de Deus.”
(Fiódor Dostoievski)
(Salvador, agosto de 2011)
/////
Já é tarde para consertar.
Não, não serei nostálgico.
Não falarei de quintais, de árvores.
Já é tarde para consertar – repito.
O modelo urbano foi esse: poeira, pó e ganância.
A cobiça dos teus alcaides, dos teus “construtores”, dos teus políticos, sempre foi mais forte.
Teus homens públicos não te mereceram.
É claro: nunca te amaram
E muitos resolveram silenciar: é um réquiem o que queria escrever.
Mas um réquiem deve ter nobreza trágica.
Minhas palavras não: são pálidas, conscientes de sua inutilidade.
O tempo já não cabe dentro de mim.
Uma ilha habita o meu coração, mas não existe mais.
Já é tarde para consertar – caio na redundância.
(Qualquer palavra será inútil.)
Um dia, talvez, ela seja lembrada.
Minha ilha é nevoeiro.
(Com suas gaivotas, com seus meninos, com seus trapiches, com suas casas, com seus terrenos, com os seus verdes, com os seus pássaros, com suas praias – sem turistas deslumbrados.)
E nos teus morros, a gente poderia subir a qualquer hora do dia.
E morro (morremos): de doenças crônicas, de omissão, de complacência com a corrupção, de vaidades vãs.
Quem se lembrará dessa gente tão pequena que se apossou de ti, ilha natal?
É como se visse uma iluminada fogueira num junho qualquer – que nunca se apaga.
(Missa do Galo, tainha frita, o orvalho daquela manhã, e aquela praia chamada Lagoinha – no extremo Norte de ti –, ainda silenciosa e sem abutres.)
Ela, a Ilha (perpétua, imanente) continuará: para sempre:
Em um ser que ainda está sendo gestado – contemplando um álbum de fotografias num domingo à tarde.
Pai: Dissipa essa cerração!
Eu sei: “Todo ser humano tem dentro de si um vazio do tamanho de Deus.”
(Fiódor Dostoievski)
(Salvador, agosto de 2011)
/////