Acabei de ler as proezas de seus guerreiros nativistas. Além da narrativa cheia de engenhosos lances, como o exército dos morcegos, a linguagem é sedutora. Eu, amazonense, filha de cearense por parte de pai e neta por parte de mãe, deleitei-me com um montão de palavras que me ressuscitaram a infância (só um terço do glossário foi novidade pra mim).
Gostei imensamente da saga dos Cardoso, a extremamente divertida estória dos mamelucos malucos de Monte-Mor. Pedro, que da dinastia é o menos insensato e o mais normal, não podia deixar de ser o traidor. O que reina na dinâmica dos fatos é o império da fantasia, a fidelidade à utopia absurda da revolução nativista.
O romance é uma verdadeira epopéia cômica. Os heróis são caricatos e a paródia onipresente não poupa a história nacional, a igreja católica, o poder estatal. Trata a dominação dos indígenas sem insistir na tragédia do genocídio. Isso fica atrás dos bastidores.
Minha memória não é das melhores, mas tenho impressão de que você nunca usou tanto de humor como neste livro. Certo? Um humor crítico que expõe as mazelas da politicagem, as rivalidades entre os chefes, a terrível competição pelo poder. E também as inquietações psicológicas, as obsessões dos sonhadores incorrigíveis, as fragilidades humanas.
João Cardoso é o Quixote sertanejo e Chicó, o escudeiro Sancho Pança. Só que em vez da dupla, você inventou a Majestíssima Trindade, em gozação com a doutrina da igreja e nos deu José também.
Nilto, você é um super ficcionista. Conheço gente mais convencida do talento pessoal, mas não melhor. Se você não tem ainda um grande público, a culpa é dele. No entanto não perco a esperança de um povo mais educado, capaz de vibrar com a literatura e não só com futebol e carnaval.
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