(Quadro de Irene Pinc)
“Só há uma coisa importante: fazer: o repique das palavras soar na mente de algumas poucas pessoas exigentes.” (Logan Pearsall Smith)
Insulto atirado na cara da morte: poema.
Velho peregrino
Eterno inquilino
(uma rima – não solução, não é Drummond?)
Leão cansado – ainda arfante.
Ainda?
Nada haverá depois:
deste sol, deste pássaro, deste menino com boné.
Reaprender a coragem – e a inocência.
Sim – é tempo de disfarces
hora de representações.
(Ter nascido em Santiago de Compostela, também não seria uma rima – nem solução.)
Acabamos todos antiquados.
Escrever do fundo do coração – onde só Deus pode enxergar.
É inútil? Não importa. Não?
Pressagio calamidades?
Também o arco-íris.
“A tarefa que me resta: reunir relatos, organizar as partes dispersas. Poeta, tocador de lira, mago, senhor da ressurreição, é isso que me caber ser”.
(J.M. Coetzee –“O Mestre de Petersburgo”)
Pronto estou para cruzar o escuro rio.
Sem ver o que os outros viam, tentei ver o que ninguém mais via.
“Toda morte é uma simplificação da vida para os sobreviventes: ela os exonera de serem gratos ou de serem obrigados a fazer visitas”.
Marcel Proust – “O Tempo Redescoberto”)
Mortalidade e memória.
Sempre: mortalidade e memória
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