(Abismo, de Manecas Camelo)
É um caminho sem retorno
Um abismo ali dentro luzia,
O diabo pousa no contorno
Das suas pernas fugidias.
É perceptível o morno hálito
Desprendido na correnteza
Do ar. Traje negro e sumário
Que esconde toda sua beleza
O andamento imita a leveza
Sucinta de um poema chinês,
Sem tradução em português
Devido à tamanha agudeza:
Vestida de verdes labaredas
Apascenta dentro do incêndio,
O imenso e variado compêndio
De todas as minhas incertezas.
O demônio ali em sussurro
Risca o corpo como um muro
O desejo desenhado a giz
São as linhas em tumulto
Perfazendo a graça do vulto.
....
Um abismo ali luzia
Nas suas pernas fugidias...
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