onde os mortos germinam;
avança
avança
sobre velhos pensionistas de guerra
guardados
em seus jardins
sentados
à claridade
folheando páginas de Baudelaire
ou Rilke.
O dia abraça essas coisas
que morrerão
enquanto
nos museus,
intactas,
fraturas de tempo expostas
(os velhos pensionistas de guerra ―
heróis
ora cobertos de moscas―
dentro delas, eternos, em papel e tinta)
adestram os vivos
com seus belos fósseis.
O dia avança
enquanto sobre minha mesa
marcha um exército
de moscas
(as mesmas que engordam
na pele decadente
das velhas relíquias de guerra)
enquanto escrevo
uma epopéia ―
sobre uma (feliz) humanidade
de cães.
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*Dércio Braúna é historiador, poeta e contista, autor de O pensador do jardim dos ossos(Expressão Gráfica e Editora, 2005), A Selvagem Língua do Coração das Coisas (Realce, 2005), Metal sem Húmus (7 Letras, 2008), Uma Nação entre dois mundos: questões pós-coloniais moçambicanas na obra de Mia Couto (Scripta Editorial, 2008), Como um cão que sonha a noite só (7 Letras, 2010). Contato: derciobrauna@bol.com.br.
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