As moças do tempo informam que o inverno começou na terça-feira, 21 de junho, exatamente às 14 horas e 16 minutos. E dizem mais: que este mesmo inverno vai nos chatear durante 93 dias, 15 horas e 49 minutos.
Não sei para que serve tanta precisão. Pelo menos aqui no litoral do nordeste, inverno é sempre um período indefinido em que a chuva atrapalha nossa praia. No mais, a temperatura baixa um pouco, o que leva alguns (algumas) extravagantes a usar a roupa de frio que estava guardada desde a última viagem a São Paulo.
Puxando pelo que me resta de memória, lembro das tardes chuvosas em que as luzes da rua se acendiam mais cedo com a chegada apressada da noite, o que dava a impressão de que meu pai demorava mais a voltar do trabalho. Da janela da frente, o futuro nostálgico já se demorava vendo a água correr ligeira pelo meio-fio da rua deserta e encharcada.
No mais, tinha as férias do primeiro semestre, quando eu ia com meu irmão para a casa dos meus tios numa usina de Alagoas. Ali sim, fazia frio. A gente acordava de manhã e a serração não permitia que víssemos a parede dos fundos do grupo escolar que ficava a uns cinquenta metros da casa. E se tiritava na volta do cinema, lá para as dez da noite. Aí ganhava sentido aquela música junina da “noite fria tão fria de junho”.
Sei que cada um tem um inverno dentro de si, pessoal e intransferível. Mas desconfio que o inverno de todo mundo é triste. É um tempo de ficar trancado em casa, sentindo o cheiro de mofo que sai das estantes e dos guarda-roupas. De vez em quando um pigarro na garganta, vez por outra o nariz escorrendo.
Com um pouco de boa vontade, porém, é possível criar alguns momentos bons no inverno. Pode ser bom assistir a um filme em boa companhia. Pode-se jogar cartas ou conversa fora, dependendo da boa companhia. E em boa companhia também se pode inventar alguma coisa boa de fazer para esquentar o corpo.
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