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quarta-feira, 25 de julho de 2012

A propósito de um dicionário analógico em língua portuguesa (João Carlos Taveira)



Num mundo devastado pela mediocridade, pela violência, pelo egoísmo e — last but not least — pelos ditames de um sistema cada vez mais consumista e utilitário, em que o homem perambula sem norte e sem esperança à mercê da própria sorte, o surgimento de novas opções no campo da lexicografia, paralelas a um punhado de outras boas publicações na área da ficção e da não-ficção, é como um bálsamo, um refrigério para a alma daqueles que heroicamente ainda resistem.

Idealista que sou, quero cuidar hoje de um assunto muito especial, pelo menos para mim: o Dicionário de palavras interligadas — analógico e ideias afins, de Kurt Pessek. Sempre tive e alimentei paixão pelos dicionários de todas as naturezas, aliás, com o mesmo amor que tenho pelos livros em geral.

O dicionário que Kurt Pessek organizou e lançou recentemente em Brasília, pelo selo da Thesaurus, compila mais de 800.000 vocábulos e atinge quase 1.800 páginas num só volume de capa dura, impresso em papel pólen 67g, com tiragem de 300 exemplares, numerados e autografados pelo autor. E diga-se: um trabalho gráfico e editorial quase artesanal, mas que resultou numa joia preciosa para estudantes, professores, escritores, bibliófilos e intelectuais de todas as áreas.

O escritor Kurt Pessek, autor de vários livros publicados, é membro efetivo da Academia Brasiliense de Letras, da Associação Nacional de Escritores e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. Portanto, uma figura de proa na cidade idealizada por Juscelino Kubitschek, inventada por Lucio Costa e Niemeyer e erguida do chão, ao longo de 53 anos, por todos nós, brasileiros idealistas — “os construtores do belo belo”.

Como propala, em alta voz, o editor Victor Alegria, “em mais de 100 anos de independência do Brasil, muitos dicionários, organizados por brasileiros, têm surgido no panorama nacional, mas nenhum que se compare ao trabalho de Kurt Pessek, produzido, editado e lançado em Brasília, uma cidade jovem cuja riqueza intelectual ainda é tesouro escondido”.

Não raro, a cidade mostra a intelligentsia de grande número de pessoas que para cá vieram e aqui plantaram suas raízes, nos mais variados segmentos da educação, da arte e da cultura. Muitas dessas pessoas, algumas já esquecidas no anonimato, vez por outra surgem de repente como vulcões avassaladores, pelo pensamento ousado, pelas ideias arrojadas e pela tenacidade de seu trabalho criativo. Temos vários exemplos desses lampejos de genialidade pelos quatro cantos da cidade. (Só não vê quem não quer.) É o caso de Kurt Pessek, um homem que, por injunção de uma fala de sua progenitora, dedicou quarenta anos da vida a colher no jardim das diversidades linguísticas e na seara da lexicografia os frutos das palavras que, não sendo usadas, poderão ser lançadas também na vala comum do anonimato, e perdidas para sempre de nosso alcance.

E aqui fica também uma lição da importância de pais e mestres na vida das pessoas. É no lar e na escola que se plantam, na mente e no coração das crianças, as sementes dos desafios vindouros e os germes da inquietação criativa.

Conclamo todos ao mergulho neste oceano chamado Dicionário de palavras interligadas — analógico e ideias afins, de Kurt Pessek: sairemos mais leves e mais familiarizados com as naturais dificuldades de nossa língua portuguesa, prontos para enfrentar melhor as turbulências da vida, tanto na fala quanto na escrita.

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