Crônica nº 1 dos membros da ACL
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(Escritora Marly Vasconcelos)
Sempre considerei adequado à poesia, esse nome de suave leveza azul. Li um poema dela, tinha adolescência na alma ainda, foi num livro de português da antiga oitava série ginasial. Apreciava muito tais compêndios didáticos, verdadeiras antologias de iniciação literária. Os da Magda Soares eram os meus preferidos. O texto de Marly figurava em versos livres admiráveis, de ritmo largo e vibrante como as vagas da Praia do Futuro. As metáforas fluíam espontâneas como em “profundamente” de Manuel Bandeira.
Não sei, se a dicção meiga e serena, de apurada sensibilidade poética, o discurso sem artifícios retóricos de vocabulário rebuscado, apenas emoção tecida de palavras, as mais simples e líricas possíveis. Algo nelas suscitava vibração diferente, de aroma e gosto do mel em gotas de orvalho ao sol da manhã. Era uma poesia formidável só para sentir com a intuição, nada elaborado para impressionar de modo complexo, e como a luz derramada na água do rio, provocar somente a sensação translúcida do belo dinamismo das coisas simples, iluminando o sentido da vida.
Faz quarenta anos, esse poema me acompanha. Não me lembro da sua estrutura formal, quantas estrofes, assunto, título; mas a substância dele permanece comigo em estado de poesia pura, esta inefável imagem entre o sonho e a esperança, claro enigma, talvez, do verbo divino.
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