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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Remédio (Clauder Arcanjo)












Por temer a dor
O poeta, crente, se guardou.
Por descrer da dor
O poeta, ausente, se crucificou.

A dor só é remédio
Para uma dor maior.
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domingo, 30 de dezembro de 2012

O Homem Desoriental - V (Mariel Reis)










A espuma do banho esconde sua paisagem,
Qual a nuvem o astro flutuante no céu.
Imagino o ocultado pelos véus vaporosos
Presos às gotas d’água que bailam nos seus poros.
Allah, quem me dera morrer embriagado
Na taça do seu umbigo.
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sábado, 29 de dezembro de 2012

O feminismo negro de Paulina Chiziane (*) (Adelto Gonçalves)




(Paulina Chiziane)
               
Para João Craveirinha, pela amizade e pelos subsídios fornecidos para este ensaio.                                        
                                                           I         
Se a literatura escrita por mulheres já é um mundo diferente, abordado por ângulos que romancistas e contistas homens dificilmente veem, imaginemos, então, o que pode ser o mundo visto por uma mulher africana, moçambicana, ainda mais se é governado por costumes e tradições que nos soam estranhos. Esse estranho e mágico mundo é o que oferece em seus livros Paulina Chiziane (1955), a primeira romancista negra de Moçambique.
             

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Os ossos (Daniel Mazza)














I

Do fundo do sepulcro os ossos falam,
Com seu silêncio de osso, eles falam,
O verbo é a imagem das suas tibiezas:
Eis o pó a que tudo se resume,
O pó, a essência última das coisas,
A substância alquímica dos deuses,
O segredo visível mas não visto.
E falam mais da vida que da morte:
Eis os ossos de reis e de rainhas,
Os ossos de grão-duques e de servos,
Os ossos dos primeiros e dos últimos...
São ossos iguais a ossos, ossos são
Não mais que ossos-irmãos: foram cozidos
De um mesmo barro e pelas mesmas mãos.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Com os olhos (Inocêncio de Melo Filho)




 








Quando a fala não fala
Nem o falo penetra
Tento comer bem
Com os olhos.

Ao tempo

O tempo passou
Levou meus sonhos e as mulheres nuas
Que me possuíam sem pudor
Deixou em mim noites intermináveis
Com pesadelos certeiros
E uma forte convicção da sua existência. 


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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Da contenção (Carlos Nóbrega)










Em mim sempre houve
a inquietação do ponteiro dos segundos

Tudo me vem com interjeições
E eu vivendo só de murmúrios!
Oh se eu soubesse escrever
todas as interjeições por que passo,
Se eu pudesse dizer cada pulsão que há na minha vida,
Ah se eu soubesse!

Tantos ohs por viver, meu deus,
E eu nessas economias,
Nesses tristes psius a que me submeto ...

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