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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Atualidade e carisma de Bertrand Russel (Franklin Jorge)



 

Poucos escritores exerceram sobre alguns de minha geração maior influência que Bertrand Russel, o grande radical distinguido em 1950 com o Prêmio Nobel de Literatura, pregador do não-conformismo, condenado à prisão aos 89 anos por incitação à resistência passiva, na luta contra o armamento nuclear; por isso mesmo, popularíssimo entre os jovens intelectualizados ou de alguma forma ligados à cultura underground e alternativa do mundo inteiro.

Uma referência e um guru para muitos, via o homem como parte da natureza e não adversário dela, pois defendia a idéia de que os fenômenos mentais parecem estar intimamente vinculados a uma estrutura mental. Percebeu, porém, que se os indivíduos não são inteligentes, hão de se contentar em acreditar naquilo que lhes disseram e possivelmente praticarão o mal, apesar da mais genuína benevolência. Acreditava que o conhecimento é ingrediente de uma vida plena. Não era mais jovem e amava a vida.

Adversário das ortodoxias, ele encarnava o grande radical capaz de imaginar uma sociedade onde os homens viveriam livremente, sem ódio, sem inveja, sem cobiça, somente passíveis de extinção se não fossem estimulados à criação. Como opositor das esperanças irracionais, pregava as virtudes do senso comum, ao garantir-nos que nunca saberemos o suficiente para ter certeza de que a nossa verdade é melhor do que a do outro.

Querido da mídia, naqueles pulsantes e multifacetados anos sessenta, rivalizava em popularidade com o próprio Sartre. Ambos sabiam o que dizer a jovens rebeldes predispostos a duvidar das certezas e, sobretudo, a não confiar inteiramente em autoridade alguma. Porém, segundo Anders Osterling em seu discurso de recepção por ocasião da entrega do Prêmio Nobel, Bertrand Russel era um desses pensadores que não se deixam paralisar pela hesitação.

Era emocionante para todos nós acompanhar através dos noticiários sua atuação conflitante com o sistema, sua defesa do direito dos jovens a um mundo mais justo no qual a cultura e a livre concorrência das idéias nos levariam a alcançar a verdade e a paz. Ele observou que o desejo de adquirir conhecimento é natural nos jovens e que o estilo resulta da eficácia.

Bertrand Russel considerava que a oposição é uma das missões naturais e urgentes de todos aqueles que se empenham em produzir conhecimento e, ao dizê-lo, tocava particularmente aos jovens que não se contentavam com o que a realidade lhes oferecia nem se resignavam às perspectivas de um futuro sombrio e incongruente. E nos ensinou que a anarquia significa liberdade para os fortes e escravidão para os fracos, reforçando Thoreau, para quem o melhor governo é aquele que governa menos, ou seja, que não se intromete na vida dos cidadãos.

Já octogenário, em plena guerra do Vietnã, ele admoestava os velhos que se sentem oprimidos pelo medo da morte. Entre os jovens, esse sentimento lhe parecia justificado, pois temendo com justa razão serem mortos no front, teriam o direito de se amargurarem, ao pensamento de frustração, diante do que a vida pode oferecer de melhor. “Mas – escreveu –, no homem velho, que conheceu as alegrias e os sofrimentos humanos e realizou sua obra de acordo com as próprias possibilidades, o medo da morte parece um tanto abjeto e ignóbil” [in “A arte de Envelhecer”].

Lia-o com a avidez dos jovens que se entregam a uma experiência nova. “Caminhos para a liberdade”, “Educação e vida perfeita”, “A conquista da felicidade”, “Liberdade e organização”, “O elogio do lazer”, “O poder”, “História da filosofia ocidental”, “A autoridade e o indivíduo”, “Ensaios impopulares”, “Ciência e sociedade” e “Ensaios céticos”, meu predileto, empilhavam-se na cabeceira de minha cama quando não os emprestava aos meus amigos e àquelas pessoas que eu queria distinguir ou impressionar, proporcionando-lhes o desfrute de um autor que falava às angústias que oprimiam o meu coração adolescente e o fazia bater descompassadamente.

Havia ainda em Bertrand Russell algo que me encantava e que o tornava ainda mais especial para mim. O nome de sua família fora glorificado por Shakespeare, pois os Russell participaram da luta pelo trono da Inglaterra, ao tempo da disputa entre as famílias Tudor e Plantageneta.

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