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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Relendo o Conde de Volney (Franklin Jorge)


 

O pensamento está no cerne da escrita, diz-nos Constantine François, conde de Volney, um desses homens que mais tem pensado.

Visionário kantiano, autor de um catecismo contendo os princípios físicos de moral extraídos da organização do homem e do universo, desejava que o seu livro – A Lei Natural – viesse a tornar-se de leitura universal na Europa.

Sempre me atraíram os pensadores e os moralistas que nos estimulam a pensar e, sobretudo, a duvidar metodicamente, com paixão e constância, pois, afinal, sensatez de espírito quer dizer retidão, preleciona o conde, acrescentando que o preceito do Evangelho é o mesmo que o da natureza.

Não é De Volney um escritor improvisado. Por isso, pode dizer:
Minha fantasia, que se exalta no campo – escreveu , enlanguesce e sucumbe em casa, sob o madeiramento de um teto. Muitas vezes tenho lamentado de que não existissem as dríades; asseguro que entre elas teria querido fixar-me eu…

O Conde, orientalista devotado ao estudo das religiões antigas, vasculha a cinza dos legisladores e medita sobre a ciência dos séculos ao pé do deserto espaçoso e triste, cemitério de cidades e povos desaparecidos e do homem que semelha aos demais animais – privado de experiência do passado e sem previsão do futuro –, órfão desamparado da potência não conhecida que lhe havia dado a vida; e que, antes de domesticar o camelo, vagava pelas selvas guiado e regido por seus instintos naturais.

Percorre o conde uma terra arenosa e distante onde vagaram os primeiros homens pelas selvas e margens dos rios, perseguindo as feras e os peixes, cercados de perigos e acuados pela fome, pelos répteis, conhecendo suas fraquezas individuais, movidos pela necessidade comum de viver seguros e pela recíproca consciência dos próprios males, uniram seus meios e forças; e quando encontraram alguém em perigo o ajudaram e socorreram os outros, quando faltou a um o alimento, lhe deu outra parte da sua presa.

Hoje o conde não é popular, embora tenha o seu culto por uma capela de leitores que formam uma seita agnóstica. Porém, nunca em qualquer época foi a sabedoria popular ou teve grande audiência, admitamos. Chegará o dia em que os leitores formarão uma maçonaria secreta que se reunirá, em lugar não sabido e incerto, para discutir e ruminar a leitura dos livros, artefatos considerados então de alta periculosidade, quando exposto à curiosidade dos homens; condenados e banidos pela tirania de plantão, como temos visto no curso da história.

Crê De Volney que a decadência se instala quando fica estabelecida a ociosidade sagrada no orbe político. É quando, progressivamente, abandonam-se os campos, ficam infecundas as terras, os impérios se despovoam, arruinando-se os monumentos; nessa circunstância, restam somente escombros do passado, enquanto passiva e precária a generalidade do povo aplaude os demagogos e os tiranos que Constantine François Chasseboeuf Boisgirais, o Conde de Volney, nascido no Anjou, em 1757 e falecido em Paris, em 1820, fustiga em A Lei Natural e em As Ruínas de Palmira, suas obras máximas.

Antevendo o novo século – no Capítulo XV do que chamou de “catecismo do cidadão francês” –, quando o povo recuperaria o seu poder, após se conscientizar de que ondas do inumerável gentio abarrotavam o orbe, inunda as ruas e praças, por todo canto ouvindo-se o grito: “Que novo privilégio é este?”

E continua o conde visionário e moralista, escrevendo os seus pensamentos:
Somos uma populosa nação, e nos faltam braços, reitera o conde da tribuna do livro. Possuímos uma terra fecunda, e nos faltam víveres ou estão pela hora da morte. Somos ativos e laboriosos, e não temos o que comer. Pagamos enormes tributos, e nos dizem que são insuficientes. Estamos em paz com os de fora, e não estão seguras nossas pessoas nem nossas fazendas dentro de nossa própria casa. Que secreto inimigo é este que nos devora? E que envilece os bons com o servilismo?

Um criador devotado ao logos, à palavra, ao raciocínio, combate o Conde de Volney a fama popular que se converteu em fato certo e deu corpo ao ser imaginário. São questões que se colocam em A Lei Natural através de princípios físicos de moral sacados da organização do homem e do universo.

Em seu humanismo militante, De Volney descreve um mundo racional regido por preceitos e doutrinas que se conformam com a razão e o entendimento humano. Por isto viveu e lutou o bom combate

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