Constantine François
Chasseboeuf Boisgirais jamais se tornaria popular com este nome, mas, sim como
Conde de Volney, [Craon, Anjou, 1757 - Paris, 1820.]
Herdeiro do racionalismo
de Helvétius e de Condorcet, sempre esteve o Conde de Volney ao lado do
humanismo e da razão. Em As ruínas de Palmira e A Lei Natural – suas obras
magnas – estuda a origem das sociedades e das grandes religiões, e do homem
submetido à escravidão que o impede de dispor de sua vida de acordo com a razão
e a lei natural.
Uma nota biográfica inserida numa edição antiga informa que, além de ter estudado direito e medicina, De Volney pertenceu ao grupo que considerou Kant místico e visionário; um espírito, em síntese, sobrecarregado de preocupações e sonhos teológicos; um pensador da Ilustração.
Orientalista, deu inicio
ao ciclo de viagens ao Oriente. Percorreu assim países distantes, o Egito, a
Síria, a Palestina, o Líbano e outros. E não o faz para explorá-los e
envaidecer-se com sua cultura, mas em busca da origem de todos os cultos.
Viajou com o fim declarado e insolente de estudá-los e de amalgamá-los – todos
os cultos – numa superstição única.
Seu livro mais famoso
abre com uma prece solene e elegíaca às ruínas e sacros e silenciosos muros da
antiguidade. No décimo ano do reinado de Abd-ul-Hand, filho de Ahmed, imperador
dos turcos, De Volney está às margens do Orontes, na cidade de Hems, próxima a
Palmira, situada no deserto.
Nesse cenário arenoso e
inóspito, de Volney decanta os vestígios do tempo, meditando sobre o apogeu e a
queda das nações que, por excesso de riquezas se deixaram aniquilar pela
iniquidade. E, dessa forma, nos consola dizendo que na vida tudo é mutante e
transitório e que só nos justificamos através da criação de uma obra. No seu
caso especifico, de uma obra voltada para a educação dos povos.
Iluminado pela
experiência e amadurecido pela reflexão, caminha o conde entre as ruínas da
remotamente opulenta cidade que engrandeceu o reino da Etiópia. Pensa na
orgulhosa Tebas de Cem Palácios, progenitora de cidades, monumento dos
caprichosos da fortuna, havia muito desaparecida.
O reino de Palmira,
outrora feliz e próspero, arruinou-se e desapareceu do mapa. Agora,
assenhoreada pelo deserto e amortalhada pela areia, o conde a contempla e há de
lembrar-se de Longino que, de professor em Atenas passou à corte de Zenóbia,
rainha de Palmira, que tinha os sábios e os escritores em muito apreço. Viveu e
morreu ali o notável retórico do Século III depois de Cristo. É ele o autor de
um pequeno tratado filosófico, Do Sublime – o equivalente de A Arte Poética, de Horácio, o mais
misterioso dos poetas…
Sempre o conde tem-me
acompanhado e instruído. Meu primeiro exemplar do seu livro, eu o ganhei de um
tio que o lera e anotara. Deixei, por minha vez, os vestígios de minhas
leituras nestas páginas que agora perlustro numa edição popular que um velho
amigo, ao passear pela Espanha, adquiriu pensando em mim. Eis o que escreveu
Arruda Sales, em julho de 1987, em Madri, na folha de rosto de As ruínas de
Palmira:
Ao amigo Franklin uma
pequena lembrança para que sempre esteja ao lado dos amigos e da razão, assim
como o Conde sempre esteve.
Embora seja a obra pela
qual se fez mais conhecido, prefiro A Lei Natural às Ruínas de Palmira, que o
conde elegeu entre outras ilustres ruínas. Seria a Lei Natural o catecismo
urdido por De Volney como um desses bons livros elementares. Um desses livros
que, conforme confessa, mais custa compor e, ainda mais, ler, pois exige do
leitor algo em troca: que pensem e reflitam as virtudes morais.
A primeira edição deste
escrito foi publicada com o título de “Catecismo do cidadão francês”, em 1793,
e influenciou muitos pensadores e intelectuais humanistas no mundo inteiro.
Aqui em Natal, era seu leitor o grande estilista Edgar Barbosa, que chegou a
escrever a seu respeito com o respeito e admiração devidos à inteligência e ao
bom senso.
De Volney desejava que A Lei Natural se tornasse um livro
nacional e uma leitura comum de toda a Europa. Porém, ele mesmo pondera que a
causa de sua muita concisão não seja suficientemente o objeto de um livro apto
para as escolas populares. Animava-o, porem, a idéia que o fazia contente,
porque tinha a consciência de que abrira o caminho que se há de seguir para
fazer outro melhor. Contém os princípios físicos de moral extraídos da
organização do homem e do universo.
Em seu ideário que
presume a lei natural, o conde reflete entre outras coisas sobre as virtudes
individuais, domésticas e sociais da justiça, da temperança, da continência,
além do valor e da atividade, esperando que dessas lições resultem a construção
de um novo homem regido pelos bons costumes que com pouco se satisfaz e que,
por não desejar mais que o necessário, logo se livra de uma multidão de
cuidados, agruras e afãs e, sobretudo, dos agravos das paixões.
De Volney, autor de
nobres utopias, sonhava com um mundo erigido pelo esforço igual e comum das
forças de homens livres e exaltados pela paixão da pública felicidade que se
sobreporiam à parcialidade dos ambiciosos e do indivíduo, considerado um homem
sem relações com os outros. E, pensando assim, nos ensina que o contrário da
ciência é a ignorância e que a necessidade é a realidade da ignorância
associada, às vezes, à vaidade do saber.
Sua filosofia, portanto,
poder-se-ia resumir em axiomas elementares, tais como: conserva-te, te instrui
e modera-te. E, sobretudo, que o homem viva para seus semelhantes, para que
eles vivam por nós.
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