O título deste artigo não é a frase acima, de Sócrates, mas a esperta
resposta de Arcesilau:
– E eu nem disso tenho certeza.
Isso faz pensar. Mas – contrário à liberdade do pensamento – o
cristianismo estabeleceu o dogma “Eu sou a Verdade” e estamos conversados. Mas
todos sabemos que não é assim. Cristo, numa de suas Revelações, diz que o
fim do mundo aconteceria na sua geração, o que é claro, não era verdade. Diz
que não nos devemos preocupar com o dia de amanhã, mas o mesmo evangelho conta
que ele suou sangue na quinta, apavorado com a ideia da crucifixão na sexta.
Outra inverdade. E, numa Jerusalém sob Roma, que a destruiria quarenta anos
depois, disse que se deveria amar os inimigos e que se desse a César o que era
de César, o que seria considerado alta traição para um russo durante a invasão
napoleônica, para um ianque na luta pela independência, ou para um
cidadão do Recife-e-Olinda durante a Insurreição Pernambucana. Daí a tese de
Bachelard de que há um “inacabamento fundamental do conhecimento”, que ele
chama de Conhecimento Aproximado.
Nada é o que parece. No Princípio botaram-me na cabeça que o Brasil fora
descoberto por Cabral em abril de 1500, o que foi desmentido pelas leituras
seguintes, com as quais fiquei sabendo que Vicente Yáñes Pinzón, três meses
antes, já dera o nome de Cabo de Santa Maria de La Consolación a um promontório
pernambucano e, ao rio Amazonas, o de Mar Dulce. Explique-se: o Tratado de
Tordesilhas não validaria o achado espanhol. Bom. E num distante belo dia
assisto ao Jesus Cristo Superstar e fico sabendo que Tiago em
inglês é James, pelo que disse Uai! Ou, no original: Why! E então me
informo do fato de que o nome dele era Jacó, na verdade Yákkob, como o do
Antigo Testamento, e – séculos depois, na Espanha – seria Iago, Sant’Iago, que
acabou degenerando em San Tiago. Por essas e outras, a ciência determina que em
toda descoberta, o descobridor deve dizer “Tudo se passa como se” – até prova
em contrário. Como se deu quando Einstein disse que tudo se passava como se a
luz das estrelas com trajetória próxima ao sol, rumo à Terra, sofresse desvio
pela força gravitacional dele, o que abriu uma polêmica enorme. Até que houve o
eclipse de 1919, quando alguns cientistas vieram a Sobral, outros foram para a
Guiné, e ficou constatado que o gênio da Relatividade estava certo. Ou melhor:
a verdade (quid est veritas?), foi o que acabei sabendo, é que mais de
um século antes, outro alemão – Johann Georg Von Soldner – já afirmara isso.
– Só sei que de nada sei – Sócrates (se é que Sócrates não é apenas
personagem de Platão) disse.
– E eu nem disso tenho certeza – dizem que Arcesilau, em seguida, teria
acrescentado.
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