“Pequenos,
minúsculos, os contos de Roberto Schmitt-Prym, entretanto, revelam um longo
conhecimento da vida e da arte. Possuem, em comum, uma visão realista de nosso
quotidiano, tão cheio, por vezes, de desencontros – e, por que não, de
tragédias íntimas. As personagens, todas sem nome, deambulam por um universo em
que a esperança é coisa rara, mas ela sempre surge, aqui e ali, no final de um
conto ou no meio de outro. Caberá à sensibilidade do leitor deixar-se conduzir pela
mão do autor nessas abreviadas aventuras, sabendo que viajará por autêntica
literatura”.
Luiz
Antonio de Assis Brasil, Secretário de Estado da Cultura
Roberto Schmitt-Prym nasceu
em 1956 em Panambi, RS. Foi selecionado no Prêmio Apesul Revelação Literária 79
e no Prêmio Habitasul Correio do Povo
Revelação Literária 81. Estudou com Charles Kiefer e Assis Brasil. Participou
das antologias Contos de Oficina 35,
brevíssimos! e 101 que contam.
Traduziu a obra Giacomo Joyce de
James Joyce. Como fotógrafo, realizou sua primeira exposição individual no
Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, em 1990. Desde então fez
mais de vinte exposições individuais em museus e em instituições no Brasil e no
exterior, exposições coletivas e recebeu uma dezena de prêmios em diversos
países. Entre outras atuações, destacam-se os cargos de diretor da Associação
Riograndense de Artes Plásticas Chico Lisboa, diretor da Bienal do Mercosul,
conselheiro da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e diretor do Museu Julio de
Castilhos.
Contos:
Cavalgada
Sente a brisa no rosto, fecha os olhos e se vê num campo, galopando em
vertiginosa correria. O entusiasmo o leva para longe, por paisagens
inimagináveis.
Subitamente o cavalo é detido em sua marcha e ele tem de voltar de sua
fantástica viagem que chegara ao fim.
Ainda não está parado totalmente, mas o menino coloca os pés no chão e corre
alvoroçado na direção da mãe. O que ouve são os ruídos do último giro do
carrossel.
A velha
senhora
Depois daquela manhã passou a seguir a velha senhora. Andou por ruas cheias de
crianças brincando, viu amantes de mãos dadas, passou por velhos andando
lentamente pelas ruas da vida.
Quando a velha senhora entrava por uma porta gasta pelas marcas do tempo, e
entrava por outra e mais outra casa, sempre aquelas pintadas de anos, esperava
o tempo todo do outro lado da rua.
A cada morte morria um pouco. E continuou a persegui-la, constantemente.
Quando chegou a um palmo da velha senhora, deu-se conta de que estava no meio
da rua movimentada. Olhou-a nos olhos, já muito cansados, e perguntou:
— Pode ser agora?
— Ainda não! — ouviu como resposta.
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Contos
Vertiginosos, ROBERTO SCHMITT-PRYM
Editora
Bestiário | R$ 20,00
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