Estou
tentando retomar a escrita do romance juvenil Paralelo Um há muitos meses; ele
já teve um título esquisitíssimo: A Jornada de A Bao A Qu. Mas o problema não é
o título nem o enredo, a história já está com o esqueleto pronto, só que não
estou conseguindo, primeiro, conciliar o tempo que disponho com escrita
literária (não tenho mais o tempo que possuía quando escrevi Tempo do Corpo) e,
segundo, não sei se devo direcionar minha escrita ao mercado ou ao FNDE. Sim,
pensar no leitor, em literatura juvenil não é suficiente. Deveria ser, eu sei.
Nessa
fase de retomada sem fim é impossível não repensar estratégias, técnicas,
objetivos, modos e meios de se alcançar a adolescência que tive, mas fazendo
com honestidade, pretendendo chegar próximo à imaginação e inventividade que
possuía às vésperas da puberdade. Pensar em algumas coisas é inevitável, como
“educar não é criar, e eu creio que só a natureza cria” (Monteiro Lobato).
Estamos praticamente sozinhos nesse turbilhão de conhecimentos da vida. De
certa forma, querendo ou não, nossos professores são mecanismos de apoio nessa
caminhada, são nossas muletas. E a literatura também.
Por muito
tempo, a literatura para jovens trouxe elementos educativos (escondidos ou não)
em suas linhas – não apenas nas entrelinhas. Essas histórias pretendiam servir
de lupa para determinados comportamentos, representando e endossando determinadas
concepções de mundo. E Monteiro Lobato não foi exceção. Mas o papel da
literatura, de suas histórias – na forma como vejo – não deve ser educar, mesmo
que eduque, não deve servir de apoio à criação dos futuros cidadãos do país e
do mundo, mesmo que algumas das histórias se tornem muletas para isso durante a
infância e a adolescência.
Além
disso, histórias são também produtos, pois estão inseridas em um mercado, com
público e profissionais envolvidos até à medula nisso, que interagem entre si,
influenciando nossas concepções sobre o que é e como deve ser uma boa história
para se ler, escrever ou contar. Muitas vezes, essa influência é vil,
entretanto é inevitável.
É nesse
turbilhão que eu acabo perdendo o fôlego, mas não a vontade de buscar
alternativas. Porque eu ainda lembro muito bem do leitor que fui e escrevo
também pensando nele, querendo diverti-lo e surpreendê-lo. Falta saber se o
jovem que fui está ultrapassado ou se as expectativas continuam as mesmas. Será
que preciso renovar a visão de juventude que possuo? Provavelmente.
Enquanto
não me teletransporto para esse paralelo, permaneço no “mundo dos adultos” por
mais um tempo, pelo tempo que for preciso, pois uma boa história não se faz
apenas com boas ideias, mas com o fermento adequado e o tempo suficiente de
maturação. Como a Isa Pessoa, dona da editora Foz, afirmou em entrevista, “o
mau livro não fica. Um romance demanda tempo para ser escrito, editado, e
durar”. E eu desejo que os meus fiquem. No bolo literário, o que conta é o
tempo e não temperatura do forno.
*Homero Gomes: autor dos inéditos Sísifo Desatento (contos), Tempo
do Corpo (romance) e Jamé Vu (publicado
na Internet). Colaborou com Rascunho,
Cult, Germina Literatura, Ficções e TriploV.
É editor do blogue coletivo www.jamevu.tumblr.com.
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