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quarta-feira, 29 de maio de 2013

A universalidade de Ibiapina (João Carlos Taveira*)



(Quadro de Tácito Ibiapina)


A luz está para a pintura, como a música está para a poesia. Melômano que sou, faço esta reflexão ao contemplar (repito, contemplar) as peças mais recentes da coleção de Tácito Ibiapina, com cuja exposição em Brasília a Cavalier Galeria de Arte veio nos brindar a todos os amantes da Beleza, quer sejam artistas ou não.

           
          A arte de Ibiapina é, antes de tudo, poesia. Seu jogo de cores e tintas nada mais é do que uma simples fruição cotidiana das ars poética, pois sua alma está impregnada da poiesis que tem faltado a tantos cultores do verso escrito, em tantos poemas impressos.

            O universo criacional de Tácito Ibiapina compõe-se de poucos, mas ricos signos e logos que, consciente ou inconscientemente, são levados ao infinito por meio de uma técnica despojada, infensa a supérfluos matizes. Ibiapina sabe desenhar, e esse domínio alia-se, com leveza de estilo, ao seu talento no manejo dos materiais e à percuciente essencialidade que lhe escorre da alma, ao recompor o universo de sua região, dentro de uma visão às vezes permeada pelas vívidas nuanças do ser no seu próprio exílio.

            Da técnica, alinda poder-se-ia dizer: óleo sobre tela. Todavia, a utilização de espátulas em vez de pincéis dá uma riqueza particular à obra desse piauiense de Picos radicado no Planalto Central. Ibiapina, com certa singeleza artesanal, trabalha o concreto e o subjetivo como se fosse também escultor, tamanha a capacidade relacional com que empreende sua viagem memorialística no exercício da criação. Seus quadros, muitas vezes, transcendem o objeto, para se tornarem, diante de nós, espectadores, retratos vivos e pulsantes de uma realidade telúrica específica. Quem de nós não traz dentro de si, intactos ou, de certa forma, já esmaecidos, as reminiscências e os atavismos pela vida simples do interior?

            Não há retrato de figura humana, embora sua presença esteja em todo canto, em cada utensílio. Surpreende-se nesta obra um mosaico de objetos retratados os mais diversos. Tulhas, pelos cantos — silenciosamente. Latas, tachos e bacias, pelo chão — cheios de preguiça. Mesas toscas, paus e tocos. Vasos de flores; girassóis refluindo da simplicidade do ambiente em direção à luz. Alpendres, salas e cozinhas; interiores e exteriores de casebres rústicos, universais, sob a insistência de uma toalha ora vermelha, ora azul, ora amarela. Quintais, cisternas e varandas; portas, muros, janelas e cancelas trazidos da lembrança do Artista para a realidade e deslumbramento do nosso olhar.


* João Carlos Taveira é poeta e crítico literário. Tem vários livros publicados.

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