(Continuação)
Deve ter razão Anderson Braga Horta: “Será que os que não conhecem o autor vão topar?” Pois das centenas de pessoas a quem enviei o questionário apenas 15% responderam. 85% certamente não tomaram conhecimento de suas peças e, portanto, não quiseram mostrar o rosto. Além do mais, não é pecado nenhum não estudar Moreira Campos. Os corajosos (?) são poucos:
Astrid Cabral (Manaus, AM, 1936, reside no Rio de Janeiro): “Não conheço Moreira Campos, embora o nome me soe familiar. Nunca li nenhum livro dele. Talvez alguma(s) crônica(s)”.
Frederico Rocha (Niterói, 1985): “Quanto ao Moreira Campos, francamente não o conhecia até a sua pergunta; aparte o nome. Mas agora, depois de ler uma "resenha de biografia", fiquei muito interessado em conhecer sua obra. E eis aí o papel da filosofia: não fosse o questionamento de uns, o que seria da ignorância de outros...”
Luiz Otávio Oliani (Rio de Janeiro, 1977): “Serei sincero: não conheço Moreira Campos, mas espero que o amigo possa me retirar das trevas para conhecê-lo de fato”.
Urda Alice Klueger (Blumenau, SC, 1952): “Acabo de conhecer Moreira Campos no Google. Creio que nunca li nada dele, apesar de ser uma leitora voraz desde a infância. Que pena!”
Vanda Lúcia Da Costa Salles (São Gonçalo, RJ, 1956): “Caríssimo Nilto, nunca li nada desse escritor, confesso. Fui pesquisá-lo, o Moreira Campos, amei alguns contos que li, tais como, “A gota delirante” e “As corujas”. Agradecida por apresentar-me a um escritor tão espetacular como este brasileiro. Irei trabalhá-lo com os meus alunos. Sigo na pesquisa”.
W. J. Solha (mora em João Pessoa): “Não conheço, Nilto. Por sinal, conheci agora a obra do poeta Luis Augusto Cassas, do Maranhão, numa edição parruda de 1400 páginas da Imago, em dois volumes, cara lá do Maranhão. Você o conhecia? Não digo nem que somos centenas, mas milhares de desconhecidos, Nilto”.
Entretanto, chamou a minha atenção o tom de algumas respostas. Pareceram-me azedas, raivosas, vingativas, esdrúxulas. Talvez movidas pela inveja. Não exatamente de Moreira Campos, mas de todo e qualquer homem de letras cujo nome apareça aqui e ali. Como se dissessem: “Não deixarei fulano aparecer, para não me ofuscar”. Um deles assim resumiu sua ignorância: “Não conheço Moreira Franco”. Observe-se: até confundiu o nome do contista com o de um político conhecido no cenário recente do Brasil. Chamaram-no igualmente de Moreira Sales.
Certo cidadão até fez deboche: “Você conhece Moreira Campos? Eu, não. Ele já apareceu no fantástico? Já leu algum livro dele? Eu, não. Já foi criticado no Rascunho?”
Transcrevo o comentário de um literato talvez desiludido e irritado: “E o Moreira Campos, será que me conhece? Será que já leu algum livro meu? Acredito que não, pois geralmente os autores de pouca divulgação na mídia, que eu conheço, são os que me vão surgindo pelo caminho, ao sabor do acaso. Eu próprio sou um excluído da grande mídia, editoras, academias e livrarias. Conto também com o descaso da maioria dos consagrados, que nunca se abalam de seu canto para verificar como anda a produção daqueles que ainda se acham “no limbo”, para usar uma expressão do Artur da Távola (um dos poucos de projeção que acompanhava e apoiava autores ainda não consagrados). Troco livros com todos aqueles com quem consigo contato e nos quais reconheço valor. Nunca intercambiei obras com o Moreira, porquanto não tive oportunidade de conhecê-lo ainda. Antes, quando fazia o informativo (...), quase todo o mês aparecia algum nome novo. Hoje não faço mais a publicação. Assim, os novos nomes, em geral, vêm a mim pela Internet. Por sinal, quando iniciei (...), um dos meus objetivos era descobrir quem era quem e produzindo o quê, na literatura brasileira contemporânea. Com o tempo, fui percebendo que o projeto era impraticável. Somos milhares, por este Brasil imenso. Mesmo de vários autores a quem conheço e a quem até admiro, não tenho as obras todas. É tudo fragmentário. E nem é preciso dizer que essas minhas lacunas de conhecimento e leitura atingem até mesmo muitos dos grandes e conhecidos autores cujos livros se acham disponíveis em livrarias e bibliotecas. A realidade é de uma imensidão esmagadora. A gente colhe as estrelas que pode, conforme a estação, o tempo, a oportunidade e a ocasião”.
Ora, como poderá o defunto Moreira Campos conhecer alguém (no sentido de ter convivência, conversar, etc), se nos deixou em 1994? Além do mais, era (ou é) muito maior do que quase todos os personagens desta ficção (que me desculpem a franqueza) e não tinha nenhuma obrigação de ler mais ninguém. Sua carpintaria já se achava (e está) arrumada, pronta para ser fruída, difundida, estudada.
Conclusão
Ao término deste trabalho (pesquisa e anotações), tiramos algumas conclusões chocantes, pessimistas e desalentadoras. No entanto, nada está perdido, porque escrito foi. Está inscrito nos pergaminhos. Ninguém apaga a pedra, o couro, o tecido, a tábua, o papiro. Quem guardou Homero, toda a Grécia, o Egito, a Mesopotâmia? Quem guardará Moreira Campos? Ou nada restará dele, nem o nome? Há ainda a conformação de que é assim (porque Deus quer), tem sido assim e nada mudará: a literatura é o patinho feio, a ovelha negra das artes. Quem sabe, os desprezados e renegados de hoje estarão ao alcance de todos amanhã ou num futuro bem distante. Serão eternos Machado de Assis, Franz Kafka, Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges, Camilo Peçanha, Marcel Proust, Graciliano Ramos, Julio Cortázar e uma lista enorme de nomes de seres fora do comum.
Fortaleza, abril de
2013.
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