(Nelson Hoffmann)
O nome
do homem – vê-se que descende de alemães – é Nelson Hoffmann, de Roque Gonzales,
Rio Grande do Sul, o advogado, contabilista, que criou um personagem
excepcional, o advogado, contabilista, Dr. João Roque Landblut – vê-se que
descende de alemães –, espécie de Holmes e Maigret amador, de Três Martírios,
Rio Grande do Sul. Esse Landblut, já bastante conhecido por casos anteriores –
tendo sido o principal O Homem e o Bar
(romance de 1994) –, fatalmente se
tornará famoso, agora, com A Mulher do
Neves – coedição Ledix e Editora da URI, 2013.
Melhor
do que Landblut, no entanto, se isso é possível, é a figura do título – mulher
do Neves – a escultural, riquíssima, generosa e enigmática vítima de um crime
que acaba de acontecer quando o relato começa... e que vai sendo construída aos
poucos pela investigação solicitada pelo viúvo, que é o maior cliente do
escritório do investigador bissexto e ... o maior suspeito do crime.
Quando
se fala em romance policial no Brasil, a referência é, de imediato, Ruben
Fonseca, também advogado, admito, mas basta uma comparação entre A Mulher do Neves e A Grande Arte, por exemplo, pra se constatar que – além disso – um não tem nada a ver com
o outro. Veja a ficha do personagem principal do carioca: Mandrake: Advogado
com tendências a detetive, solteirão irresistível às mulheres, extremamente
sedutor. Aprecia vinhos finos e charutos. Ok, admito, há uma conta de chegar. Mas
Landblut é casadão, paisão, viciado em cerveja e cigarros. Mas não é só isso:
Ruben Fonseca é o tipo do autor que gosta de exibir minúcias técnicas...
eruditas: vira páginas falando de punhais, v.g., como Umberto Eco faz com os
detalhes de um portal gótico em O Nome da
Rosa. Hoffmann, não: tudo é muito
mais simples nas coxilhas missioneiras, embora não menos instigantes, porque
misteriosas. Porque o tema é o ser humano, sempre. Hoffmann, porém, é mestre
nos detalhes. Em seu primeiro romance – A
Bofetada, de 1978 – ele já impressiona pelo que consegue – de fabuloso – ao
fazer um tímido excitadíssimo observar, deitado sob uma figueira, a chegada de
uma jovem que também – intensamente – o deseja.
Daí que Landblut esmiúça as fotos da bela morta e todas as outras, dela
em vida – mantidas pelo único fotógrafo da cidade –, num macete proveniente,
talvez, do Blow-up de Antonioni (ou
do anterior Las Babas del Diablo, do
Cortázar), matando-nos de impaciência.
E a
genialidade de Hoffmann está justamente nesse seu pesquisador com as limitações
que nos fazem sentir – literalmente – taquicardia – quando sentimos que poderíamos auxiliá-lo, alertá-lo, nas
pesquisas, o que acaba criando um suspense suplementar extraordinário.
Ô, leia
o livro.
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