Daniel
Barros não é só uma promessa, mas uma revelação da nova literatura brasileira.
E o romance foi o gênero escolhido para expressão de suas inquietações, de seu
estar no mundo. Depois do sucesso do livro de estreia (O sorriso da cachorra),
chega a este Enterro sem defunto com grande vigor criativo e
amadurecido domínio das técnicas exigidas pela modernidade. Sua oficina
romanesca, de certa forma, amplia o discurso tradicional na busca de uma dicção
própria, em que elementos ficcionais entrelaçam fatos históricos com fatos
cotidianos vivenciados pelo autor. A originalidade, todavia, é meta precípua
deste alagoano determinado e audacioso.
O enredo do livro, com utilização de flashback, se desenvolve em
múltiplos planos da ação narrativa, para desaguar, como em um filme noir, no suspense, mas sem final
feliz. O narrador, embora onisciente, detém-se mais em sugestões do que em afirmações... E
deixa tudo em aberto. Cabe
ao leitor interpretar o conteúdo e escolher o desfecho que melhor lhe
aprouver.
A linguagem utilizada nunca é
rebuscada, embora cuidadosa no apuro vocabular e sintático. Daniel Barros, a
partir de suas vivências, como já foi dito, veicula ideias muito próprias
acerca do mundo recriado. E, à maneira de um Graciliano Ramos, de um Ernest
Hemingway, por exemplo, não esconde o desconforto e o pessimismo diante de
certos acontecimentos da vida e se rebela, às vezes, contra soluções
inconsequentes do Poder Público.
Enterro sem defunto,
pela ousadia do conteúdo, merece, desde já, lugar certo em nossa estante e deve
receber o devido reconhecimento de leitores e de crítica. É o mínimo que se
espera.
Brasília,
1.º de abril de 2013.
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