O título tão nietzschiano desta apologia faz
referência ao nietzschiano título do mais novo, terceiro e espero não último,
livro-poema de Solha: Esse é o Homem,
ecce homo que todo cristão e ateu deveria conhecer. É o cara. Numa época
de poemas curtos e coloquiais, tudo pela facilidade, que não dizem quase nada,
um poema longo que diz quase tudo, difícil na mais difícil das artes, muito
fôlego e esforço pra inspirar a todos nós. Não é o tamanho do poema nem sua
complexidade nem sua profundidade nem qualquer outra coisa específica que
define sua qualidade geral, humanista sem bom nem mau sentido, renascentista,
mas a qualidade mantida com intensidade em quase cem páginas é um milagre
artístico. E este Everest, jovem e alto pra (se) superar (n)o mundo, e Grand
Canyon, velho e profundo pra (se) submeter o(a) mundo, é a biografia provisória
do Homem, em progresso, dos heróis que fizeram a História, de Jesus a Hitler,
de Shakespeare a Brecht, de Solha a ele-mesmo, se tornando o que é: antena da
raça. Com o subtítulo wittgensteiniano de Tractatus
Poetico-Philophicus, Esse é o Homem me
lembrou, ao epílogo (li tudo duma só vez), de O Filósofo Autodidata, novela alegórica em árabe do polímata (assim
como Solha) Tufail, andaluz do século 12, a qual, mistura de Tarzan ou Mogli
com Robinson Crusoé e Gulliver, é o homem entre feras com a necessidade de ser
deus, aprendendo e ensinando, desenvolvendo razão e sentimentos, artes e
tecnologias, filosofias, crenças e ciências, enfim, na estória de um homem a
estória dos homens. Pensando grande, como Hamlet, Solha agiu grandemente, como
Sansão, e mais uma vez, em busca de beleza e perfeição, mostrou seu poder (hereditário
e erudito), o que é mais importante. Os dois poemas longos anteriores Trigal com corvos (mais pensante) e Marco do Mundo (mais brincante) se
encontram aqui pra não parar mais.
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