Para
Ronaldo Cagiano
Encimando
a prateleira principal a frase, em letras góticas e vermelhas: “Um país se faz
com homens e livros.” — Monteiro Lobato.
A
mulher sempre a queixar-se do ramo que abraçara. “Nós vamos morrer de fome,
Zacarias. Este é um país de analfabetos, homem!”
O
negócio aberto pontualmente às sete da manhã. Aproveitava o vazio das primeiras
horas para limpar os volumes expostos. Lá, o encontro com Machado de Assis,
Dante, Eça de Queirós, Shakespeare, Balzac, Victor Hugo, Dostoiévski, Herman
Melville, Gregório de Matos, Goethe, Cervantes, Camões... Velhos companheiros,
sob uma fina camada de poeira.
O
ajudante Nicolau Bartolomeu estranhava por que Seu Zacarias sempre escolhia
arrumar a estante menos visitada.
—
É ela que precisa de um bom espanador, meu caro. Os demais são sempre limpos
pelos próprios dedos dos incautos!
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