(Vladimir Horowitz)
Enquanto
Horowitz tocava na sala,
ao
retornar à sua querida Moscou,
uma
lágrima escorria em teu rosto,
seguida
por outra lágrima e outras,
como se
quisesses de volta o teu avô
que amava
o Devaneio de Schumann.
Os amores
conosco irão para sempre,
não temos
no peito espaço bastante
para
abrigar todos os que já se foram
e dormem
cansados dentro de nós:
entre as
costelas temos tumbas tantas
que somos
um cemitério ambulante.
A lágrima
escorre bem lenta, como se
quisesse
parar o tempo, que dispara
tantas
setas contra nós, tique-taques
como os
relógios antigos dos bisavós:
quando
vejo, estou prostrado no chão
de
joelhos diante da lágrima em efusão.
Não temos
lenços nem toalhas bastantes
para
secar essa enchente que nos afoga
na pena
que temos dos tantos mortos
que não
podemos mais fazer ressurgir
aqui onde
por eles choramos, o sangue
em vão
vertemos nas entranhas da terra.
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