Nilto
amigo:
li e terminei há pouco o seu delicioso livro
"Quintal dos Dias". Sensação de ter lido um romance. O personagem
principal (você, no caso), aparece em todos os "capítulos" e as
descrições das alegrias e dores são comoventes. Baturité... (meu irmão casou
com a neta do "Dr. João Ramos, com suas cem janelas"). Você foi
um moço cercado de livros ("o jogador de bola cedeu lugar ao leitor"
e cita o nome de meu pai como um dos seus autores. Incríveis os nomes das
tribos indígenas que povoaram o Ceará e a sua memória é estupenda! Ah, e suas
descrições de menino de interior: "Pelos punhos da rede, via o mundo
escuro. Galos cantavam canções eternas no quintal de minha casa." Lindo! Minha
mãe escreveu um livro autobiográfico ("Os galos da minha infância" e
a história começa com ela menina e termina no dia em que conheceu meu pai, e
explicava ter parado nesta época porque os "povos felizes não têm história".
O "Pedaço de Ferro" é maravilhoso!
"Cavava buracos e poços, mudava o curso dos rios, derrubava florestas,
revolvia montanhas". E você, como coronel mandão: "– Faça-se
ponte aqui. E vinha minha mãe a me contrariar: – Saiam já de perto deste
esgoto!" Ri muito. E que final de texto belo: "Súbito me vi na rua,
só, sem mãe e sem brinquedo." Ah, você caminhou também, mesmo que por
pouco tempo, por cima de tintas, pincéis e telas. E a mocinha chegando a sua
casa, tocando a campainha e você: "A princípio, não lhe dei ouvidos.
Dei-lhe todos os olhos". Tive pena
de Ailton. Morreu tão moço! E com a grande vontade de ver seus versos
publicados. Pena grande também quando li que sua obra mais importante
desapareceu num incêndio! E as bagunças, quando adolescente, no colégio! "Os
professores liam fábulas e nós não queríamos saber nem de uvas, nem de
raposas!" Delícia quando você, depois do texto sobre o recebimento dos
prêmios, diz: "Agora peço, ao leitor paciente, permissão para me retirar.
Preciso ler direitinho novo regulamento de concurso".
Enfim, amigo, me deliciei com seu livro. Minha admiração
por você é grande, creia.
Receba o meu abraço afetuoso.
Badida
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