O bigodão do gordo se mexeu, quando pedi a primeira dose. Ao beber, percebi que ele desconfiava de mim. Seus olhos pareciam lâminas a cortar meus lábios. No entanto, eu precisava beber. Engolir o veneno, o fel. Minhas vísceras, frágeis vertentes por onde desaguavam metais derretidos. Não quis cuspir ao pé do balcão e corri para a porta. Cuspi sobre o lombo do cachorro que lambia o traseiro de outro. Tentei acender, apressado, um cigarro. Uma baforada de ar frio entrou pelas narinas, pela garganta, pelas olhos. Voltei e pedi mais bebida. E mais, mais, mais.
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sexta-feira, 2 de dezembro de 2005
quarta-feira, 30 de novembro de 2005
Ana Carolina da Costa e Fonseca: solidão e sexo (Nilto Maciel)
As peças ficcionais de Ana Carolina da Costa e Fonseca em Sei Que Ele Me Ama, Pois Me Disse Uma Vez (Editora Bestiário, Porto Alegre, RS, 2004) podem ser vistas como contos de personagens. São eles o centro de tudo, independentemente do que fazem, de suas ações. Seres voltados para si mesmos, como se o mundo de fora não existisse. Assim, não se “vêem” ambientes, a arquitetura de casas, prédios, ruas. Os personagens como que levitam longe do espaço urbano ou rural. Talvez nas nuvens. Em “Abraços” a narradora se refere a um hospital, um quarto, onde está sua tia. Mas durante todo o tempo se volta para a dor que sente. Suas ações e sensações físicas parecem traços embaciados num quadro: “saio do quarto”, “está muito quente”, “o cheiro do hospital me deixa a cada passo mais triste”, “ando sozinha”. Ressalta na história o drama psicológico do protagonista. Nem mesmo a narradora de “Parafusos” consegue dizer duas ou três palavras sobre o seu trabalho na fábrica de parafusos, o que poderia dar à narrativa mais encanto, limitando-se a falar de si mesma, abandonada pelo marido, solitária. Assim, se trabalhasse numa padaria, numa lavanderia ou em outro tipo de indústria ou comércio, nada mudaria no conto. O significado do parafuso ou a sua metáfora poderia ser apresentada com mais pompa.
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