Não, o poeta não seria o pintor sem pincel. Assim também o pintor não poderia ser revelado como sendo o poeta sem a palavra. Tudo isso não passa de jogo de palavras, de tentativas falhas de definir as posições assumidas pelo artista. Porque o universo não é somente paisagem, realidade visível. Quantas dimensões existem?
Nenhuma Correnteza Inaugura Minha Sede é poesia de paisagem, nunca pintura de paisagem. Floriano Martins não pinta, não porque lhe falte pincel, mas porque olha o mundo, olha o olhar, olha para fora, para dentro e para aquele espaço que nenhuma máquina conseguiria ver. Revela sua própria loucura, aquela que põe diante do mesmo telescópio a criança, o primitivo e o mágico. A loucura de olhar e ver um gato mastigando, irônico, a minguante face da Lua. Em “Fuga” o corolário de toda a sua poesia: “Toda paisagem é fuga / delírio da razão”.