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sábado, 14 de janeiro de 2006

Floriano Martins: Poesia da paisagem (Nilto Maciel)


Não, o poeta não seria o pintor sem pincel. Assim também o pintor não poderia ser revelado como sendo o poeta sem a palavra. Tudo isso não passa de jogo de palavras, de tentativas falhas de definir as posições assumidas pelo artista. Porque o universo não é somente paisagem, realidade visível. Quantas dimensões existem?

Nenhuma Correnteza Inaugura Minha Sede é poesia de paisagem, nunca pintura de paisagem. Floriano Martins não pinta, não porque lhe falte pincel, mas porque olha o mundo, olha o olhar, olha para fora, para dentro e para aquele espaço que nenhuma máquina conseguiria ver. Revela sua própria loucura, aquela que põe diante do mesmo telescópio a criança, o primitivo e o mágico. A loucura de olhar e ver um gato mastigando, irônico, a minguante face da Lua. Em “Fuga” o corolário de toda a sua poesia: “Toda paisagem é fuga / delírio da razão”. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

A lenda de um reizinho - capítulo exótico (Nilto Maciel)


Fui o primeiro deles. Assim, posso falar a respeito de nós, inclusive dos mortos. Eu me sabia superior aos homens em todos os sentidos. Depois de mim veio aquela onda de dar aos bebês humanos o meu nome. Talvez assim esses futuros cidadãos se parecessem comigo. Além disso, o controle da natalidade deixou de interessar aos casais. Todo mundo queria procriar. Para ter filhos como eu. Logicamente que o fenômeno não se deu da noite para o dia. Antes de um ano de idade, meus cinco primeiros homônimos moravam no mesmo prédio onde eu vivia. Fora daí ninguém mais sabia de mim. Porque meu pai fez chantagem com os pais desses pobres meninos. Se revelassem o segredo de minha excelência genética, ai deles. Doenças terríveis, demência, vinditas extraterrenas.