Translate

sábado, 22 de abril de 2006

Tadeu e a mariposa (Nilto Maciel)




Agora ele deve andar metido nalgum quarto de pensão a implorar à mulher com quem se deitou a se deixar fotografar lá mesmo na cama, nua e suja como estiver. Contaram-me que vive dia e noite nas zonas, desesperadamente cantando mulheres, máquina pendurada ao ombro: “Vamos tirar umas fotos, garota?” E todas lhe fogem como o diabo foge da cruz, receosas de se tornarem mais públicas, de comprometimentos com a polícia, os bons costumes. Sua má fama já se espalhou por todos os meretrícios. Não vai para trepar e muito menos para fazer outras sacanagens. Seu fraco é fotografia erótica, coisa nojenta. De certo não abre o jogo e se faz de apaixonado: “Quero te ver de novo, sempre; deixa eu te fotografar”. Ou mente e diz que é repórter de revista de nu. “Você vai criar fama, virar manequim, estrela e ganhar muito dinheiro sem precisar abrir as pernas durante toda a noite em troca de uns cruzeirinhos”. Mas a coisa ficou preta pro seu lado, nem a mais rabugenta puta aceita sua companhia, sabedora de que é um explorador como outro qualquer, falso e mentiroso. Dizem que vive constantemente embriagado, liso, sujo, remendado, a peruar de bordel em bordel, de ruela em ruela, doido por uma cliente que não lhe saiba o nome.

Os ensaios de Sânzio de Azevedo (Nilto Maciel)


(Sânzio de Azevedo)

 
O ensaísta, pesquisador, historiador, estudioso do fenômeno literário Sânzio de Azevedo é autor de uma dezena de obras, quase todas voltadas para o estudo da Literatura Cearense.

Dez Ensaios de Literatura Cearense versa temas distintos. Um deles, o primeiro, trata do conto, atendo-se a uma infinidade de escritores, ao contrário dos demais estudos do livro. Trabalho de fôlego, fruto de demoradas pesquisas. Não se trata de um estudo da natureza do conto, como já o fez Braga Montenegro, mas de uma análise de cunho histórico.