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quarta-feira, 12 de julho de 2006

Aquele homem de asas (José Peixoto Júnior)


(Nilto Maciel, ao lado de ChicoMiguel de Moura, à esquerda, em Havana)

As asas de Ícaro, filho de Dédalo, criatura de Ovídio, eram pregadas ao corpo com cera de abelhas; as do Ícaro do “Navegador” deveriam sê-lo com cera de ouvido, para não fugir da utilização de substância idêntica em idêntica finalidade. Assim, com ceroma e com cerume a lhes suster o órgão principal do vôo, os avoadores precipitaram-se da Serra de Baturité, um rumo ao Nordeste e o outro ao Centro Oeste. O primeiro confundiu o azul do mar com o azul do céu e suas penas molharam-se, virando espuma do mar. O outro atingiu o centro do mapa.
Antes do voo, tanto o Ícarozão quanto o Ícarozinho estiveram envolvidos com os “Guerreiros de Monte-mor”. Haviam partido da “Estaca Zero” acossados, depois da tentativa homicida com o “Punhalzinho cravado de ódio”, isso em decorrência da intriga gerada n’"A Guerra da Donzela". Foram verdadeiros “Tempos de mula preta”! À toa, vagabundavam numa busca à-toa de “Itinerário”. Até que “O cabra virou bode”, não com medo do “chupa-cabras”, mas para enfrentar “As insolentes patas do cão”. Cão cão, não cão dos infernos. Em seguida, já tranquilos, meteram-se entre “Os varões de Palma”.

Mon amour (Nilto Maciel)


A história não tivera começo. Ele não se lembrava de onde viera nem como conhecera aquela mulher. Não se lembrava de nada anterior àquele momento: sentado na cadeira, mãos sobre a mesa, de frente para a mulher.

O garçom servia, retirava-se, voltava, e eles a conversar. Ela queria saber o nome dele. Perguntava, insistia. Ele não se lembrava de ter tido um nome algum dia. Talvez tivesse apenas apelido. Bebia um gole de champanhe, sorria. Não via importância nenhuma no seu nome. Tanto fazia ser José ou Abraham. Ela, porém, não desistia. Não gostava de conversar com pessoa sem lhe saber o nome.