A história não tivera começo. Ele não se lembrava de onde viera nem como conhecera aquela mulher. Não se lembrava de nada anterior àquele momento: sentado na cadeira, mãos sobre a mesa, de frente para a mulher.
O garçom servia, retirava-se, voltava, e eles a conversar. Ela queria saber o nome dele. Perguntava, insistia. Ele não se lembrava de ter tido um nome algum dia. Talvez tivesse apenas apelido. Bebia um gole de champanhe, sorria. Não via importância nenhuma no seu nome. Tanto fazia ser José ou Abraham. Ela, porém, não desistia. Não gostava de conversar com pessoa sem lhe saber o nome.
Ele imaginava alguns nomes famosos. Mentiria com elegância. Marco Antonio? Não, ela poderia ser metida a intelectual e passar o resto do tempo a falar de Roma, imperadores, e talvez até recitasse versos latinos. Arma virumque cano.
Olhava para as mãos, a roupa, os sapatos. Sim, um homem como outro qualquer. Exceto por estar ao lado daquela mulher excepcionalmente bonita. O restaurante inteiro olhava para ela. Olhos de inveja, sedutores, maliciosos.
Por que não se dizer lorde ou príncipe inglês? Ou escritor norte-americano, amigo de Hemingway, Fitzgerald e Jack London? Aliás, por que não se chamar Jack? Não, este nome jamais.
O garçom rondava a mesa deles. Os fregueses não tiravam os olhos de cima da mulher. E ele não encontrava um nome para si mesmo. Melhor acabar logo com aquilo.
— Você conhece o Mon Amour?
Só de nome. Devia ser um lugar lindo.
— É o mais luxuoso motel daqui.
Paga a conta, entravam num táxi. Ela perdia o interesse por saber o nome dele, toda deliciada com a idéia de conhecer o Mon Amour.
Já no quarto, ela se despia lentamente, voltada para sua própria nudez. Ele também se despia, porém de olho nos movimentos dela.
Primeiro ela dava um gritinho. Depois ria e voltava a gritar.
— Você é um macaco puro!
Irritado, ele acordou. A seu lado, uma velha macaca roncava.
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