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terça-feira, 22 de agosto de 2006

Contos e "Contos" (Daniel Mazza)




Desde a publicação de seus primeiros contos – muitos, diga-se de passagem, devolvidos por revistas literárias que os consideravam desinteressantes – Anton P. Tchecov (1860-1904) já acenava com uma mudança significativa na estrutura do gênero. Caracteres clássicos como enredo bem concatenado, tensão narrativa e desfecho conclusivo foram substituídos, pelo menos parcialmente em sua obra, por uma atmosfera ficcional caracterizada pelo relato do comum e do ordinário da vida cotidiana, pelo detalhe psicológico da situação e, precipuamente, pelo desfecho “em aberto”. Dando um passo a mais em relação a Edgar Allan Poe e Guy de Maupassant, Tchecov instaura uma nova concepção de conto, a tal ponto que Mário de Andrade, em ensaio datado de 1938 e intitulado “Contistas e contos” chegara a afirmar − talvez arrebatado pelas diversas feições que o gênero vinha tomando − que “sempre será conto aquilo que o seu autor batizou com o nome de conto”. Infelizmente, o que era para ser uma proposta de reflexão, por parte do escritor paulista, sobre as metodologias de confecção da “short-story”, tornou-se, desastrosamente, um apotegma para grande número de escritores menos expertos.

domingo, 20 de agosto de 2006

A leste da morte (Francisco Carvalho)



Em dezembro de 1992, quando li a ficção de Nilto Maciel, em As Insolentes Patas do Cão, tive a inarredável convicção de que se tratava de um dos mais brilhantes expoentes da moderna literatura brasileira nos domínios do romance e do conto. As produções por ele posteriormente publicadas (Vasto Abismo, 1999, A Última Noite de Helena, 2005, e A Leste da Morte, 2006) vieram confirmar minhas expectativas acerca dos impulsos e estratégias de que se utiliza o escritor cearense na elaboração de suas narrativas.