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quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Eucarisitia (Nilto Maciel)




São três meninos. Raquíticos, sujos, esmolambados. Talvez irmãos. Lutam entre si pela posse de restos de comida. Há bolinhos de arroz, fiapos de macarrão e carne. Pedaços de frango assado. Asas, pescoços, pés. Tudo já roído, descarnado, puro osso. Estão sentados no chão e não param de mastigar, falar, roer, rosnar.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Contos e "Contos" (Daniel Mazza)




Desde a publicação de seus primeiros contos – muitos, diga-se de passagem, devolvidos por revistas literárias que os consideravam desinteressantes – Anton P. Tchecov (1860-1904) já acenava com uma mudança significativa na estrutura do gênero. Caracteres clássicos como enredo bem concatenado, tensão narrativa e desfecho conclusivo foram substituídos, pelo menos parcialmente em sua obra, por uma atmosfera ficcional caracterizada pelo relato do comum e do ordinário da vida cotidiana, pelo detalhe psicológico da situação e, precipuamente, pelo desfecho “em aberto”. Dando um passo a mais em relação a Edgar Allan Poe e Guy de Maupassant, Tchecov instaura uma nova concepção de conto, a tal ponto que Mário de Andrade, em ensaio datado de 1938 e intitulado “Contistas e contos” chegara a afirmar − talvez arrebatado pelas diversas feições que o gênero vinha tomando − que “sempre será conto aquilo que o seu autor batizou com o nome de conto”. Infelizmente, o que era para ser uma proposta de reflexão, por parte do escritor paulista, sobre as metodologias de confecção da “short-story”, tornou-se, desastrosamente, um apotegma para grande número de escritores menos expertos.