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sexta-feira, 1 de setembro de 2006

O primeiro homúnculo (Nilto Maciel)


Chegado à velhice, Leonardo Ratisbona abandonou o projeto de criar homúnculos. Morreria insatisfeito, incompleto. Como a maioria dos mortais. Porém nunca infeliz. Pois tudo fizera para tornar real seu sonho maior. Os cálculos mais complicados executara. De todas as fórmulas mágicas se servira. As orações mais exigentes rezara. Todas as poções, todos os ungüentos manipulara. As bruxarias mais exóticas praticara.

Havia um consolo: talvez seus netos tivessem o orgulho de mostrar ao mundo a grande invenção da humanidade — o homúnculo. Sim, não se sentia totalmente infeliz. Podia morrer em paz. Quase realizado, quase feliz. Até mandaria inscrever em seu túmulo: “Aqui jaz um feiticeiro quase feliz”. 

terça-feira, 29 de agosto de 2006

A última festa de um homem só (Nilto Maciel)


Estirado no sofá, Fausto lia. Ou talvez apenas namorasse as letras. Não havia mulher no resto da casa. Ninguém mais. Apesar disso, ele vestia um roupão elegante e de seu corpo recendiam perfumes de devassidão.

O livro por pouco não lhe caiu das mãos, quando uma campainha tocou. Não eram horas de despertar. Quem estaria à porta?