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sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Sobre "A leste da morte" (Liana Aragão)




Marginal por opção, Nilto Maciel é um dos grandes nomes da prosa contemporânea, ainda que negligenciado pela mídia e ausente das prateleiras das grandes livrarias. Com 17 livros publicados, numa carreira iniciada em 1974 e contabilizando muitos prêmios em concursos literários, sua bibliografia está a merecer a atenção das grandes editoras. A leste de morte traz a marginalidade como opção. São 47 contos em um objeto-livro muito bem acabado visualmente, da recém-criada Bestiário, editora porto-alegrense que tem lançado autores de fora do mercado.

O primeiro homúnculo (Nilto Maciel)


Chegado à velhice, Leonardo Ratisbona abandonou o projeto de criar homúnculos. Morreria insatisfeito, incompleto. Como a maioria dos mortais. Porém nunca infeliz. Pois tudo fizera para tornar real seu sonho maior. Os cálculos mais complicados executara. De todas as fórmulas mágicas se servira. As orações mais exigentes rezara. Todas as poções, todos os ungüentos manipulara. As bruxarias mais exóticas praticara.

Havia um consolo: talvez seus netos tivessem o orgulho de mostrar ao mundo a grande invenção da humanidade — o homúnculo. Sim, não se sentia totalmente infeliz. Podia morrer em paz. Quase realizado, quase feliz. Até mandaria inscrever em seu túmulo: “Aqui jaz um feiticeiro quase feliz”.