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terça-feira, 12 de setembro de 2006

Dois contistas cearenses (Artur Eduardo Benevides)



Entre os cearenses que triunfaram lá fora, em decorrência do seu merecimento literário, dois, por coincidência residindo em Brasília, mereceram sempre minha maior atenção e acompanhei, por isso mesmo, com grande interesse o seu êxito, na Poesia e no Conto. Refiro-me a José Hélder de Sousa, cujos poemas estão atingindo um alto clima de despojamento formal, em favor da essencialidade, e a Nilto Maciel, que lançou, não faz muito, nova coleção de contos – As Insolentes Patas do Cão – deixando-me a impressão de que se acha no melhor momento de uma criação, no gênero.

domingo, 10 de setembro de 2006

A condenação do senhor Felício (Nilto Maciel)




Nunca mais vi o Dr. Aderaldo Ascegas. Dizem já ter morrido, de velhice, do coração, de qualquer doença. Lembro-me bem da última vez que estivemos juntos, no dia do meu julgamento. Mostrava-se muito preocupado comigo, não tanto em razão da condenação, mas sobretudo porque eu não admitia ser acusado por aquela promotora e julgado por aquele juiz. Aconselhou-me repouso e tratamento médico. Procurasse uma boa clínica psiquiátrica, com urgência. Aquilo me deixou mais nervoso ainda. Tive ímpetos de ofendê-lo fisicamente, chamá-lo de morcego, ou rato. Sim, ele me lembrava um roedor. Cheguei a ansiar matá-lo. Não precisei, no entanto, cometer o crime. Velho como era, não duraria muito. E contive-me.