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sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Quem tiver ouvidos, ouça (Nilto Maciel)




No julgamento histórico dos Lobos, os juízes e acusadores, condignamente trajados, ora fumavam, ora cochilavam, ora bebiam água.

Horas e dias assim, fatigantes, calorentos, palavrosos. Os réus amparavam-se uns nos outros, comunicavam-se entre si por gestos, códigos, ruídos imperceptíveis aos homens da corte. Os mais sagazes sempre arranjavam jeito de transmitir a melhor resposta aos mais ingênuos. E conseguia o grupo enfurecer cada vez mais os gordos e imprevisíveis julgadores.

– Responda você – o juiz-presidente apontou para um dos acusados – sem errar, sem tomar fôlego: quem foram Remo e Rômulo?

Babel contemporânea (Astrid Cabral)



Não foi por acaso que Nilto Maciel intitulou Babel sua última coletânea de contos, aliás, nada é por acaso no livro. A referência ao mito bíblico deve-se tanto à variedade de linguagens narrativas adotadas pelo autor, quanto à idéia de destruição implícita no cerne delas – seja a destruição física, relativa à doença e à morte, seja a moral decorrente, da perda de inocência ou de paz interior.