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sábado, 23 de setembro de 2006

Inventário do fantástico (Ronaldo Cagiano)



Autor, entre outros, de O Cabra que Virou Bode, Os Varões de Palma, Navegador, Estaca Zero, As Insolentes Patas do Cão, Os Guerreiros de Monte-Mor e A Guerra da Donzela, Nilto Maciel (cearense de Baturité radicado em Brasília e cujo currículo ostenta uma invejável lista de prêmios em diversos concursos literários) acaba de lançar Babel, livro de contos que segue a mesma linha de elaboração de sua produção anterior.

Com uma prosa calcada na versatilidade, sua linguagem e seus personagens transitam num mundo em que realidade e ficção parecem ombrear-se numa fronteira tênue. Os absurdos, as imagens surrealistas, o variado signo de suas abordagens nos remetem aos barrocos e heterogêneos caminhos da história coletiva, pois delirantes situações e contingências são transplantadas do imaginário social, popular e dantesco, com a plasticidade literária que só um narrador arguto como Nilto Maciel é capaz de emprestar. Há uma articulação (in)tensa entre mundos mágicos, inauditos: figurações de uma emblemática busca daquelas inquietas províncias interiores que nossa infância alada deixou cravada como um punhalzinho sem ódio em nossas entranhas, vindo à tona estórias, “causos”, alegorias e mistérios qual uma meticulosa garimpagem nos sentidos.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Quem tiver ouvidos, ouça (Nilto Maciel)




No julgamento histórico dos Lobos, os juízes e acusadores, condignamente trajados, ora fumavam, ora cochilavam, ora bebiam água.

Horas e dias assim, fatigantes, calorentos, palavrosos. Os réus amparavam-se uns nos outros, comunicavam-se entre si por gestos, códigos, ruídos imperceptíveis aos homens da corte. Os mais sagazes sempre arranjavam jeito de transmitir a melhor resposta aos mais ingênuos. E conseguia o grupo enfurecer cada vez mais os gordos e imprevisíveis julgadores.

– Responda você – o juiz-presidente apontou para um dos acusados – sem errar, sem tomar fôlego: quem foram Remo e Rômulo?