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terça-feira, 26 de setembro de 2006

A escritura da magia (Ronaldo Cagiano)

O Autor Penetra os Labirintos de Nossa Memória Ancestral

A prosa de Nilto Maciel, cada vez mais, encaminha-se para uma estrutura, cuja elaboração vai nutrir-se dos elementos semânticos que a vida nos oferece, com seus absurdos, suas imagens, seu surrealismo e suas locações fantásticas. Uma linguagem permeada de signos, de uma certa tendência barroca, explorando com rigor estético realidades humanas não circunscritas ao universo comum, concreto, plausível, cabal. É na ultrapassagem metafísica da nossa condição que está a matéria e substância dessa escritura. Lá nos conflitos interiores, nas viagens sub-reptícias da imaginação, no além-fronteira da nossa existência retórica que Nilto Maciel constrói sua ficção, extraindo de tudo o inusitado, o conflituoso, o incomum, o mágico, o inesperado.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

O mundo estaliano (Nilto Maciel)



Ao assumir o poder, ordenei fossem separados os homens das mulheres e assim mantidos sob estrita vigilância policial. Tudo sem outra intenção, senão a de controlar a natalidade, razão primeira da revolução, de vez que as pílulas anticoncepcionais haviam falhado, o aborto constituía-se crime e o povo vivia em perpétuo cio. Por outro lado, nem guerras, catástrofes, acidentes, doenças, fome haviam exterminado suficientemente a espécie humana até a desabitação total da Terra. Fracassou também a exportação de terráqueos para outros planetas, ou por falta de condições materiais e científicas, ou por recusa dos próprios futuros viajantes e dos governos dos planetas instados a acolher os infelizes terrestres. A superpopulação fazia a Terra pesar demasiadamente, a ponto de seus movimentos de rotação e translação não serem mais percebidos sequer pelos mais complexos aparelhos. Previa-se, para terror de todos, o desabamento do planeta e sua consequente descida às profundezas do Inferno.