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quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Os monstrinhos de doze anos (Nilto Maciel)

(Caos, desenho de Daiane Oliveira)


O lixo inundava as ruas. Um e outro transeunte ia e vinha, passo lento, olhos enfiados nas vitrines. Nos estádios, porém, não cabia sequer mais um espectador. Repletos também os bares. Falava-se de tudo, menos da fumaça que empestou o ar na parte da manhã. Mais cedo ainda, uma pequena explosão, lamentada pelas autoridades, matou alguns operários desclassificados que transitavam pelas proximidades da fábrica. Durante todo o dia a polícia esteve de prontidão nas ruas. À noite, ao ranger das camas e ao gemer dos casais, a catástrofe do começo do dia virou pura invenção de bolchevistas.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

A escritura da magia (Ronaldo Cagiano)

O Autor Penetra os Labirintos de Nossa Memória Ancestral

A prosa de Nilto Maciel, cada vez mais, encaminha-se para uma estrutura, cuja elaboração vai nutrir-se dos elementos semânticos que a vida nos oferece, com seus absurdos, suas imagens, seu surrealismo e suas locações fantásticas. Uma linguagem permeada de signos, de uma certa tendência barroca, explorando com rigor estético realidades humanas não circunscritas ao universo comum, concreto, plausível, cabal. É na ultrapassagem metafísica da nossa condição que está a matéria e substância dessa escritura. Lá nos conflitos interiores, nas viagens sub-reptícias da imaginação, no além-fronteira da nossa existência retórica que Nilto Maciel constrói sua ficção, extraindo de tudo o inusitado, o conflituoso, o incomum, o mágico, o inesperado.