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domingo, 22 de outubro de 2006

Uns seios (Nilto Maciel)





“E através dos anos, por meio de outros amores, mais efetivos e longos, nenhuma sensação achou nunca igual à daquele domingo, na rua da Lapa, quando ele tinha quinze anos.” Machado de Assis



Pedrinho olhava distraído para os seios de Izaura, que se debruçara sobre a mesa para melhor distribuir o almoço.

– Provou do cozido, Severino?

Em vez de responder à mulher, o advogado deu um berro e pôs-se a descompor o hóspede.

– Esse menino não tem jeito. Vive dormindo em pé. Acorda, palerma, presta atenção às coisas!

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

O prazer de ler Nilto Maciel (Nicodemos Sena)




“Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites comprimidas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios”, assim o escritor alagoano Graciliano Ramos começa o magistral romance Angústia, que conta à história de uma personagem miserável, vivendo numa das cidades nordestinas e vítima de todas aquelas desgraças circunstanciais. Graciliano costuma ser lembrado como o autor de Vidas secas e São Bernardo, livros que retratam a amargurada vida rural do povo nordestino, mas é Angústia a sua melhor obra. Nesse livro, ainda é o meio agreste que serve de pano de fundo para a narrativa, mas o drama se desloca do espaço social para o psicológico, onde é exposto o conflito íntimo do personagem-narrador Luís da Silva, humilde funcionário de repartição, a quem as dívidas e um ciúme doentio empurram para o crime.