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segunda-feira, 13 de novembro de 2006

O suplício de Geruza (Nilto Maciel)

(Toulouse Lautrec)


Cautelosamente mostramos os dentes emprestados para os sorrisos programados, enquanto caminhávamos em perfeita ordem, sob o olhar do público. Cabeças erguidas e olhos enxutos, deveríamos guardar todas as emoções para o final.
Por um instante vi Emanuela nervosa e pálida na platéia. Talvez chorasse ou risse. Não sei se acenava ou dizia adeus. Nosso amor já fazia parte do passado, nossos dias, nossas noites. Desviei os olhos dela e olhei para a água. De que me servia sentir saudades, rememorar nossa vidinha cheia de mistérios e segredos, se com toda a certeza eu não voltaria vivo daquele salto? As águas seriam minhas novas companheiras dali até a morte. Eu terminaria inchado como uma fruta podre lançada ao poço, esquecido tão logo se consumasse meu fim e tão apavorada como nos meus mil sonhos intermináveis.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Estaca zero: A literatura renova pergunta (Eduardo Luz)




Através do registro simbólico, o romance de 30 colocou a grave pergunta sobre a teimosa permanência da miséria nordestina. Os dramas regionais então representados pela Literatura lograram receber uma resposta a partir da utopia configurada pelo "nacional desenvolvimentismo" dos anos 50 e 60. Estaca Zero1, de Nilto Maciel, irá renovar a pergunta formulada por aqueles romancistas sociais, conectando Literatura e História por meio de uma intertextualidade deliberada, sardônica e emocional, capaz de sustentar o painel alegórico do cruel processo de nossa formação social.