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terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

O corpo que cai (Manoel Hygino dos Santos)



 
O primeiro parágrafo de "A última noite de Helena" leva a admitir que se terá algo que lembra "Um corpo que cai", o belo filme de Hichtcock. Mas logo se verifica que a idéia inicial é falsa. Porque o livro de Nilto Maciel é, antes de tudo, eminentemente brasileiro, sem os cenários e personagens magistralmente levados à tela pelo cineasta inglês. Mas o leitor haverá de convir com a semelhança. Helena morreu ao cair da torre do sino da matriz de uma cidade pequena do interior, onde todos, ou quase, se conheciam. Segundo as investigações, a jovem não pulara, descartando-se a hipótese de suicídio. Morte misteriosa e escandalosa, porque em Palma nunca se matava mulher. Sequer nos cabarés, onde frequentemente se registravam desordens. Quanto mais em uma igreja, onde só falecia o filho de Deus, mesmo assim durante a missa.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Vou ser herói, Maria (Nilto Maciel)




Transtornado, o homem recusava abrir a porta do elevador. Se do lado de fora estivesse um tigre à sua espreita? Vários tigres? Um horror! E tremia todo. Não conseguia nem sequer se manter em pé. Melhor sentar-se. E esperar, esperar, esperar. Passaria toda a noite, e quantas noites fosse preciso passar, dentro do elevador. Não, morreria de inanição e tédio. E se o tigre, os tigres abrissem a porta? De manhã os vizinhos, sua mulher só encontrariam alguns ossos. Nunca saberiam como e por que sumira tão misteriosamente. A ossada poderia ser de outro. Talvez de um cachorro grande. Nunca de um homem, dele. Não havia canibais na cidade. Nenhuma notícia deles.