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sábado, 10 de março de 2007

Ser ou não ser (Nilto Maciel)



 
Mais uma para nos enganarem. Agora passamos o tempo ouvindo música. A cada hora, mais crescemos e engordamos, a olhos vistos. Estão todos felizes da vida. Passam o dia cantando, imitando cantores e cantoras. Um deles adora Gardel. Só falta perder a voz. Vive rouco, engasgado. Come e canta, come e canta. Deve estar louco. Outro até chora quando Amália Rodrigues canta. A maioria, porém, gosta mesmo é de sinfonias, sonatas, valsas. Babam ouvindo piano. Meu vizinho engordou antes de todos, só de ouvir Mozart. Levaram-no ontem. Os homens que cuidam de nós saem felizes. Como cresceram de ontem para hoje! Tento ficar surdo, para não engordar tanto, embora goste de tudo o que ouço. Os que inventaram a música são mesmo divinos. No entanto, como são diabólicos os homens! Dão-nos música, comida, prazer, para que cresçamos, engordemos e viremos repasto deles. Pois saímos daqui para a panela dos homens. Afinal, somos tão-somente pequenas criaturas de carne saborosa. Frangos, como dizem os homens que nos visitam de hora em hora.
Agora uma valsa de Strauss. Divina! Ouço ou não ouço?
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Os luzeiros do mundo (José Alcides Pinto)




Nilto Maciel, um autor que não se desprega de suas raízes, entrega-nos o seu último livro (romance), Os Luzeiros do Mundo (Códice, Fortaleza, 2005), com expressiva capa de Ronaldo de Castro Cruz. O título é um achado soberbo.
O menino nasceu em Baturité, onde passou a infância. Guarda o passado na memória. A região está por inteiro dentro de seus romances, novelas, contos, e até nas poesias.
Embora pouco conhecido como poeta, sendo um grande poeta, sim, e até na prosa essa aparece vigorosa, marca que é dos grandes escritores de todas as épocas.