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domingo, 29 de abril de 2007

Lições de zoologia (Nilto Maciel)


Quando a mulher morreu, o homem nem sequer chorou. Cavou um buraco e jogou para ele os restos dela.
Há anos não se toleravam mais. Não se chamavam mais pelos nomes. Tratavam-se como inimigos. “Peste ruim, já fizeste as compras?” Sem mostrar aborrecimento, ele respondia: “Ainda não, traste”.
Em busca de sossego, o animal comprou um cachorrinho. Parecia uma bola de lã. Deu-lhe um nome: Ball. Irritada, a coisa maltratava o bichinho com palavrões e pontapés. Se ao menos morassem numa casa! Ora, apartamento não era lugar onde se criasse cachorro.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Navegador (Fernando Py)


Primeiro volume de poesia do autor, muito mais conhecido como ficcionista. Mostra um poeta com bastante domínio da técnica do verso, um poeta que sabe dar valor às palavras e que exibe um variado repertório temático (de admirar em poeta estreante). Convém notar que, na imensa maioria dos poemas, o tom predominante é o de um pessimismo intenso, visceral, o que o impede por sua vez de cair num romantismo sentimentalista muito comum em poetas de estilo coloquial como o seu. O coloquial em Maciel, contribui para a intensificação de uma postura niilista - entremeada com o saudosismo dos tempos passados - que, apesar de tudo, não desmerece a sua poesia. Para preferir, notamos os poemas intitulados "Tempos", "Herança", "Acalanto", "Escuridão", "Odisséia Interior", "Navegador", "Persona", "A Morte Não Tarda" e "Testamento".
(Diário de Petrópolis, Petrópolis, RJ, 6/10/1996)
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