Translate

sábado, 5 de maio de 2007

A ideia de matar Pilatos (Nilto Maciel)




Jesus Cristo havia sido crucificado e sepultado. A paz reinava, afinal, em Jerusalém. Falava-se, porém, no desaparecimento do cadáver. Os mais fanáticos acreditavam em ressurreição.

Entre inquieto e feliz, Pôncio Pilatos decidia ir a Roma. Transmitiria pessoalmente as novidades a Tibério, o imperador.

E montava seu fogoso cavalo.

Dias e dias de viagem, por desertos, montanhas, penhascais.

Navegador (Anderson Braga Horta)



Nilto Maciel é conhecido pela prosa de ficção, que lhe tem valido alguns prêmios. Promotor literário obstinado, organizou algumas coletâneas de contos e de poemas, figurando entre seus créditos a criação e sustentação da revista Literatura. Depois dos êxitos nessa seara, no conto (Itinerário, Tempos de Mula Preta, Punhalzinho Cravado de Ódio, As Insolentes Patas do Cão), na novela (A Guerra da Donzela) e no romance (Estaca Zero, Os Guerreiros de Monte-mor, O Cabra que Virou Bode, Os Varões de Palma), decide-se a publicar poesia e nos dá Navegador (Brasília: Códice, 1996). Embora o vejamos mais em seu elemento quando escreve prosa, sua poesia tem qualidades de que a imaginação não é a menor. Seu veículo de eleição é o verso medido, o temário é variado. A dor é, talvez, a presença mais constante (a palavra dor e seus cognatos, sinônimos e parentes, a dor e suas metáforas); mas o Poeta não se deixa naufragar no pessimismo, de que o resgata uma atitude lírico-irônica, aqui ilustrada – para encerrarmos a nota com um exemplo excepcional – pelo oxímoro do fim de “Testamento”: “– a doce vida amarga que adorei”.

(Sob o Signo da Poesia: Literatura em Brasília, Ed. Thesaurus, Brasília, 2003, p. 481)
/////