Jesus Cristo havia sido crucificado e sepultado. A paz reinava, afinal, em Jerusalém. Falava-se, porém, no desaparecimento do cadáver. Os mais fanáticos acreditavam em ressurreição.
Entre inquieto e feliz, Pôncio Pilatos decidia ir a Roma. Transmitiria pessoalmente as novidades a Tibério, o imperador.
E montava seu fogoso cavalo.
Dias e dias de viagem, por desertos, montanhas, penhascais.
Passavam-se meses, anos. E nada de chegar a Roma. Para trás a solidão dos caminhos. Para todos os lados uma só desolação.
Cansado, descia do cavalo e recostava-se ao tronco de uma árvore. Quanto tempo já durava aquela jornada? Cem anos? Mil anos? Melhor voltar. Mas para onde? E para quê?
Remontava e tomava o caminho de volta. Não importava para onde. Aos poucos recobraria a memória.
E tal acontecia. Cada passo do cavalo significava a volta de um instante passado. O tempo se repetia, voltava.
Sucediam-se dias, meses, anos. E o cavaleiro chegava a Jerusalém. Falavam no desaparecimento do cadáver de Cristo.
Inquieto, Pôncio descia do cavalo e se punha a andar pela cidade. Decorriam horas, dias. Chegava ao Calvário. Crucificavam mais um homem. Olhava com atenção para o desgraçado. Lia palavras escritas numa tabuleta: “Este é Jesus, o rei dos judeus”. E mandava soltarem Cristo da cruz. Arrancassem do chão a cruz, retirassem os pregos do corpo do moribundo.
— Não, eu quero morrer — gemia o judeu.
— Cumpram minhas ordens — gritava Pôncio Pilatos.
— O destino não pode ser mudado. Se eu não morrer agora, crucificado, minha história será outra.
Obedientes, os guardas arrancavam do chão a cruz, deitavam-na e retiravam os pregos que prendiam Jesus ao madeiro.
Livre, Cristo se punha de pé.
— Você me condenou à morte; cumpra sua palavra.
— Mas mudei de idéia e quero que você viva muito e morra de velhice.
A discussão se tornava áspera. Insultavam-se em latim, grego e hebraico.
Súbito o ex-morto se apoderava da espada de um soldado e investia contra a autoridade romana.
Prestes a ser atingido, Pôncio Pilatos deu um grito e acordou.
/////