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quarta-feira, 30 de maio de 2007

O afeto que se encerra (Ilídio Soares)

(Toulouse Lautrec)

Eu só quero lhe perguntar como é mesmo que eu durmo, como é a ponta da minha língua, a mesa, a mesa que eu lhe ofereço o café, o pão e a manteiga. Se eu bebo vodka, disso você lembra, mas quando digo que o seu tesão não me fura mais o ventre, ah isso é provocação. Você me faz parecer um pedaço de velha, uma filha de Maria, destroços de roupas atiradas sobre uma poltrona nauseada e azeda. Achando-me única, na verdade sou sua melhor invenção pra se livrar das beatas abnegadas por uma tal de paixão. Mas deixa eu lhe falar, o que entristece são os doentes, os suicidas, os atropelados pelos carros e toda uma coleção de insetos esvoaçando sobre as feridas em obstinada putrefação. Eu, meu querido, eu sou apenas o desvio do seu olhar, a sua cordialidade sem receio de ficar idiota e impassível. A certeza que não se enganou de quarto e saiu desembestado agarrando a hóspede pelo cabelo. Eu sou isso, sim senhor. A esposa que não se confunde com a cunhada, o cumprimento da madame com donaire de vadia, e que você insiste confundir com a mãezinha enervada esperando por você no alto da escada.

Por culpa de Anouilh (Nilto Maciel)


















Três dias antes de morrer, Jean Anouilh recebeu a visita de Jorge Menezes. Testemunhas oculares referiram-se a um grande susto do dramaturgo. Jorge apresentou-se em trajes de coveiro. E, pior, leu trechos de seu drama ( ou dramalhão, como diziam alguns críticos ) “Covas, o democrata do Inferno”.