Pé ante pé, mão a roçar a parede, Luís deixou o quarto, passou pelo corredor e alcançou a ante-sala. Em cada mão um sapato. Parou, conteve a respiração, desceu o primeiro degrau e o segundo. Olhou para trás. Tudo calmo. Levou a mão à porta. Nada de barulho ao retirar a trave. Se Maria ou os filhos acordassem, inventaria alguma desculpa: esquecera de trancar a porta. E voltaria à rede. Sondou de novo a retaguarda: a parca luz da lamparina se infiltrava pela brecha da porta e alumiava uma nesga de chão do corredor. Ninguém tossia nem roncava.
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quarta-feira, 20 de junho de 2007
terça-feira, 19 de junho de 2007
Com os pés fora do chão (Aíla Sampaio)
Não sei por quanto tempo fiquei trancada naquela sala. A consciência era um fio de náilon oscilante. Eu a atingia por um ângulo indefinido. Ia e vinha, de modo que o tempo se repartia em pedaços de cenas que eu entrevia na escuridão. Já sabia que a consciência tinha me sobrado. Do resto, nada podia dizer; não sentia o meu sangue ferver nem gelar. Eu era só um corpo sujeito a reparos inevitáveis, centro de urgentes atenções.
Eu tinha um mundo e aquelas pessoas, outro. Elas não conheciam o meu, mas eu tinha noção do delas. A ligação estava naquele ser derramado ali, sem pudor e creio que, na concepção delas, sem um mundo imediato.
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