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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ponto final (Belvedere Bruno)




Naquela manhã, caminhando pela orla, admirava o céu azul e sentia o cheiro de maresia, relembrando cenários de infância. Catar conchinhas, procurar tatuís, fazer castelos na areia... Subitamente, fui tirada do paraíso pelo som insistente do telefone celular.
- Senhora X ?
- Sim.
- Lamento informar que seu filho,Y, foi atingido por uma bala perdida. Está morto.
Gritei um não como se fosse explodir.
Desde então, aquelas malditas palavras martelam minha mente e dilaceram o que restou de meu coração. Três anos...
Morta estou para todo o sempre. Recuso-me a falar, a ouvir e a pensar que exista um mundo que vibre lá fora, se nele não há mais o sorriso de meu filho.

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domingo, 27 de abril de 2008

Estilo pit-bull, macho ou fêmea (Adelaide Petters Lessa)





















Crava os dentes de fúria e derruba
o equilíbrio da inocência irmã.

Ódio ancestral avilta a língua impune
no despudor de se lamber de sangue.
.
Venenos e aversões estraçalhados
em cada veia íntima da vítima.

Vexame de ciúme, dignidade
em lama pública, piso de rua.


Sobrevivente, ao abandono, a vítima
sorveu a extroversão da ré fugida.

Do trauma, livra-se a cabeça, pasma !
Às tontas, não conspira, busca o prumo.

Ergue-se, ética, dessa calçada
do desamor, em nome de seu lema:

-Tenho muito a doar e ainda sobra.

Muito mais do que o piso desse cuspe.
Muito aos maldosos e aos covardes, muito.

- Dar meu perdão em vida não me custa.

*

Quarta-feira de Cinzas, fevereiro 2005.
Para gente violenta e desatinada ,
já se usam os termos pit-boy, pit-man, e pit-girl, pit-woman.


Da minha coleção de Humanos.
Adelaide Petters Lessa, São Paulo

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